Poetas de Brasilia:PAULO KAUIM.

12/06/2017 10:49

 PAULO KAUIM.
Fonte:http://www.antoniomiranda.com.br

http://paulokauim.blogs.sapo.pt/  www.facebook.com/paulo.kauim

PAULO KAUIM

De demorô
Brasília: Thesaurus, 2008-09-25 
ISBN 978-85-7062-764-3

mini rap agalopado para Chico science

este 
poema
foi 
escrito
pra
ser 
falado

não 
pra
página
ou
parede

sim
pra
tímpano
e
martelo

o
poema
falado
é
pistola
no
ouvido

grito
saído
do
papiro

onda do rap
porão de navio
toda dor
virou vinil

meu microfone
pipa favela
rima navalha

barraco oiticica
Bach tu cada
hip hip

eu soul
só sol
lua sabotage

ninar a terra
ferréz
sérgio Vaz

Anderson
vigário bom
sangue geral

desejo sim
em expansão
viela Japão

raffa no bronx
aninha em
são Sebastião

minhas 
amídalas
imploram
paz
bis

to de role
na quebrada
desquebro
o poema


recôncavo

      para rubi

quando canto
desenhos se movimentam
pelas paredes internas
da minha garganta

tenho um oceano
que te aguarda
quando canto

tenho um tapete amarelo
e um canto aqui dentro
que te aguarda

há um navio no porto
que nos aguarda
quando canto

há um anjo no teto
que bate as asas de cartolina
quando canto

quando canto
meu canto corta tanto
que choro por dentro


ele

céu-
me

ele
sol-
me

ele
nem-
me

 

de   bus   em   bus

gozo        a     vida

e         peço      bis


no topo

para dj   rappa, Japão e rappin hood

auto-estima é a gente
gostar de gente
como a gente é

ter as pernas tortas do garrincha
ser o sol de bicicleta do Pelé

se olhar no espelho
transformar a dor do porão do navio negreiro
em samba, ragga, rap, dub

perceber que a alegria e a lágrima
de ser negro, mulato, ianomâmi, lusitano
me deixa mais belo, mais zumbi, mais guerreiro

sem auto-estima
não arrumo nem a rima

 

 

Página publicada em setembro de 2008 

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