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De demorô
Brasília: Thesaurus, 2008-09-25
ISBN 978-85-7062-764-3
mini rap agalopado para Chico science
este
poema
foi
escrito
pra
ser
falado
não
pra
página
ou
parede
e
sim
pra
tímpano
e
martelo
o
poema
falado
é
pistola
no
ouvido
grito
saído
do
papiro
onda do rap
porão de navio
toda dor
virou vinil
meu microfone
pipa favela
rima navalha
barraco oiticica
Bach tu cada
hip hip
eu soul
só sol
lua sabotage
ninar a terra
ferréz
sérgio Vaz
Anderson
vigário bom
sangue geral
desejo sim
em expansão
viela Japão
raffa no bronx
aninha em
são Sebastião
minhas
amídalas
imploram
paz
bis
to de role
na quebrada
desquebro
o poema
recôncavo
para rubi
quando canto
desenhos se movimentam
pelas paredes internas
da minha garganta
tenho um oceano
que te aguarda
quando canto
tenho um tapete amarelo
e um canto aqui dentro
que te aguarda
há um navio no porto
que nos aguarda
quando canto
há um anjo no teto
que bate as asas de cartolina
quando canto
quando canto
meu canto corta tanto
que choro por dentro
ele
céu-
me
ele
sol-
me
ele
nem-
me
de bus em bus
gozo a vida
e peço bis
no topo
para dj rappa, Japão e rappin hood
auto-estima é a gente
gostar de gente
como a gente é
ter as pernas tortas do garrincha
ser o sol de bicicleta do Pelé
se olhar no espelho
transformar a dor do porão do navio negreiro
em samba, ragga, rap, dub
perceber que a alegria e a lágrima
de ser negro, mulato, ianomâmi, lusitano
me deixa mais belo, mais zumbi, mais guerreiro
sem auto-estima
não arrumo nem a rima
Página publicada em setembro de 2008