# Espasmos em Trevisan
ROSA AMARELA
As rosas tinham aquele amarelo dos olhos encardidos de vício e o perfume da habitual nicotina.
Entrou. Rosnou qualquer palavra maldita como quem se obriga a ceder, estrategicamente.
Jogou o buquê na mesa.
Abriu o armário. Um copo. O uísque.
Seguiu caminho. Sem hora pra voltar.
Hoje é dia de pedir perdão.
A VELHA E O TERÇO
Cada dobra enrugada daquelas pálpebras fechadas se esforçava para relembrar uma história vivida, empoeirada, quase esquecida.
A velha tocava cada ponto daquele terço como quem percorre o braile de sua dor.
Num tropeço, ela cai de joelhos, se apoiando na lápide vizinha.
Enquanto espanta com as mãos a terra de cemitério banhada de sangue nos joelhos, a velha murmura:
-Velho desgraçado, não perderia a chance de me foder novamente!
# Floral
ESSE IPÊ PODE SER UM POEMA (OU O HOMEM AMARELO)
Chovia no ipê
Das flores ao chão, queda seca.
O homem, bêbado
Dormia amarelo
Ao chão
Florir de sonhos
Negros
Na garganta
Todo aquele deserto
Engolia a seco
A paisagem fotográfica
Injusta, de certo
Observe:
Sob o mesmo sol
O ipê floresce
A garganta seca
E os sonhos
Do homem
Amarelo
Padecem
(Não floresceram. Quem sabe noutra estação.)
“Nada de novo sob o sol.”
# Coitos e Cotidianos
POEMINHA DE PRIMAVERA
Àqueles Grandes-Lábios-Pétalas:
As flores brotam
pra eu não esquecer
de ti.
POEMINHA DE AMOR FLUIDO
Meu sexo goza
Porque ainda não aprendeu a cuspir
(em ti)
ÁPICE
Gozo entre-lábios: Fio de luz es-corre
Na eufórica Poesia
MÃOS E RISO
À beira de meu absurdo
A solidão
Insone
Consome tua ausência
Grão a grão
À noite no íntimo de meu sexo
Mãos e riso
Insones
Corrompem a solidão
Gozo a gozo
VIÚVA NOITE
Ela, de joelhos, assistia o jorrar
daquele gozo - devaneio.
No pensamento, não cabia a ideia de um cigarro
mas sobrevoava a dúvida:
Em que vala caberia aquele corpo?
Contatos da autora:nalucontato@gmail.com