Idealizador do Fotoclube F/508, Humberto é fotógrafo e professor de fotografia.1.Conte-nos um pouco sobre sua carreira e formação.
Sou publicitário de formação e fotógrafo por opção. Com a impossibilidade de fazer cinema fora do País (nos anos 70 o cinema era impraticável no Brasil) virei assistente de estúdio em uma empresa de publicidade no Rio de Janeiro, começando a minha carreira como fotógrafo.
2. Qual o foco do seu trabalho?
Hoje o meu trabalho é voltado para uma linha mais autoral, diferente do meu início na fotografia onde o foco era essencialmente a fotografia publicitária. Acredito que a tendência da fotografia autoral seja o suporte adequado para essa "nova era" digital, na qual a banalização da fotografia se faz presente.
3.Fale-nos sobre a oficina fotográfica para deficientes visuais " Retratando com a Alma".
Partindo do trabalho e das idéias do fotógrafo cego esloveno-francês Evgen Bavcar que propõe a instigante discussão sobre uma construção do olhar na contemporaneidade e vivendo num contexto permeado por preconceitos, os deficientes visuais enfrentam os limites impostos por uma sociedade onde impera a cultura da aparência e da ditadura das imagens que os coloca à margem. Neste sentido, o projeto Retratando com Alma, realizado em 2005, justificou-se pela necessidade de refletir acerca das questões do olhar, de nossos preconceitos perante a cegueira e pela premência da inclusão dos deficientes visuais em nosso cotidiano. Além da possibilidade de resgate, para os participantes do projeto, da auto-estima, de suas memórias e da construção de suas identidades através da realização de fotografias.
O projeto possibilitou uma comunicação entre os cegos e nós videntes, comunicação esta de grande importância para que se perceba a inserção dos deficientes visuais na sociedade, suas vivências e seu olhar através das outras percepções que não a da visão retiniana.
4. Em quais projetos você trabalha atualmente?
Minha orientação atual segue com a internacionalização no mercado latino-americano do Fotoclube f/508 do qual sou o coordenador. Em outubro de 2007 organizamos nosso primeiro concurso internacional onde a geometria aplicada à fotografia foi o tema do projeto. Em parceria com 07 fotógrafos venezuelanos, realizaremos uma exposição binacional na qual o tema central será a representação das sete artes de cada País. Em nível pessoal, pretendo dar início ao projeto "Libertas", oficina fotográfica com internos do CAJE e no final do ano lançar um livro cujo tema será centrado em Bauhaus.
5.Qual o diferencial de sua escola?
Os cursos ministrados pelo Fotoclube f/508 tem seu diferencial pelo emprego da semiótica, da antropologia visual e nos conceitos Barthesianos. A escola não se preocupa somente com as questões técnicas inerentes a fotografia, mas também com as questões filosóficas que estão contidas nesta atividade.
6. Como é estudar fotografia em Brasília?
Brasília ainda é uma boa cidade para se praticar a fotografia de rua, diferente de minha terra natal, o Rio de Janeiro. A arquitetura impera e respira por todos os lados, porém, se o estudante de fotografia conseguir se desvincular desse padrão imposto, fugir dos "lugares-comuns" terá um resultado mais satisfatório.
Na UnB temos excelentes nomes voltados ao ensino da fotografia, tais como os integrantes do "Ladrões de Alma" Rinaldo Morelli, Marcelo Feijó e Suzana Dobal, e o professor Duda Bentes. Nosso orgulho é ser o curso referência fora do meio acadêmico.
7.Qual o lado chato da profissão? E o bom?
Com toda a certeza o lado chato da profissão do fotógrafo está no preço dos equipamentos e na concorrência sem ética praticada no mercado. Com o advento da fotografia digital, os aparelhos caem em "desuso" com uma rapidez impressionante, assim como o valor do serviço prestado, sobrando a máxima "Tostines": Cobro pouco por isso trabalho mais ou trabalho mais porque cobro pouco?
Se abrirmos por outro lado, toda a história da fotografia desde os tempos de Nipce, da FSA, Solomon e Magnum, entre outras referências do mesmo patamar, passando pela antropologia visual, lomografia, fotografia alternativa e fotografia experimental, até uma simples macro de um orvalho em uma pétala, saberemos porque é tão bom fotografar.
8.Qual o conselho para um jovem que deseja seguir essa profissão?
No momento que a linguagem digital assume um papel de extrema preponderância na fotografia, meu conselho a quem está começando na profissão é que entenda a filosofia e mecânica da fotografia analógica. Com essa base, o iniciante terá um estofo maior nas concepções e uso das diversas linguagens que a fotografia oferece.
9.O que é fotografia pra você?
A fotografia é definida universalmente como a escrita da luz. Para mim a fotografia é mais do que isso. Para mim a fotografia é nada mais e nada menos do que o ar que eu respiro.
10.Cite fontes de inspiração.
Aqueles que ainda terei o prazer de conhecer.
Entrevistado por Maisa Coutinho
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