Ao assumir a editoria de imagem do jornal Folha de S.Paulo, João Wainer comprova o poder da junção de foto e vídeo na comunicação do futuroJoão Wainer começou a fotografar aos 16 anos, por conta de uma fita cassete dos "Racionais" que ouviu e que o fez pensar que fotografando poderia se aproximar desse e de outros temas que interessavam a ele.
Começou estagiando no Jornal da Tarde, trabalhando com Lilian Pacce. Ganhava 90 reais e pegava as pautas que ninguém queria. O que sobrava era a "geladeira do Ponto Frio, mas eu estava amarradão", explica Wainer. Ficou lá um ano e meio e um dia, fotografando Bob Wolfenson para a Coluna "Os achados do Salomão" ouviu o renomado fotografo dizer que estava procurando um assistente, já que o último (Feco Hamburger) havia pedido demissão naquela manhã e tinha um trabalho para dali dois dias. Wainer não teve dúvidas: "Eu, eu, eu!".
No dia seguinte trabalhava no estúdio de Wolfenson. Era o oposto do trabalho do jornal, de rua e rápido. No estúdio tinha retrato, era importante pensar e trabalhar a luz. Abriu sua cabeça. Depois saiu e foi viajar, viver um pouco da adolescência que a fotografia tinha lhe roubado. Ficou seis meses fora e montou um portfólio que levou à Folha e lhe rendeu uma vaga no Caderno Fuvest.
Acabou sendo contratado em 1996 e ficou até 2006, fazendo hard news. Naquele ano fez um acordo com o jornal para ser terceirizado. Nesse meio tempo, enquanto estava na Folha nunca ficou parado. Desde de 2000 faz vídeos também. Publicou os livros "Carandiru" e "Últimas Praias", fez direção de fotografia para séries de TV, como a de Chico Buarque para o Multishow. Fez seu primeiro filme "A Ponte" e depois "Pixo", ambos projetos de cunho social, muito bem recebidos pela crítica e premiados mundo a fora.
Na véspera do aniversário de São Paulo, Wainer recebeu a FHOX na agitada redação do maior jornal do Brasil, para um bate papo descontraído no estúdio da TV Folha.
FHOX - Como foi o processo de virar editor de imagem?
Wainer - Comecei a fazer vídeo e foto, mas eram coisas distintas. Quando veio a 5D, que não lembro exatamente o ano, foi quando deu a liga. Eu já tinha feito o "Marginália", para o festival de Arles, na França, que era uma mistura de fotos e vídeos. Mas quando veio essa câmera, falei: agora virou uma coisa só. As linguagens se cruzaram e na minha cabeça estava claro que aquilo ia virar uma nova linguagem. Que a fotografia tinha crescido. Era igual o "girininho" que ganha bracinho e que ganha uma perninha e vai evoluindo... É uma ferramenta natural que a sua câmera recebeu e é meio Darwin da fotografia, uma evolução natural. Percebi isso e comecei a investir cada vez mais nisso.
FHOX - A TV Folha foi um estágio nesse processo?
Wainer - Foi. Em 2010 esbocei o projeto da TV Folha, mostrei para eles e acabaram comprando. Em janeiro de 2011 comecei a fazer a TV Folha. Que vinha com essa ideia de misturar as duas linguagens e de fazer a transposição do jornal impresso para o vídeo pelos fotógrafos. Não como muitas outras empresas vinham fazendo, que era contratar produtoras ou montar uma equipe de vídeo. Aqui na Folha mesmo tinha uma equipe de vídeo que era uma equipe separada. Pra mim era pela editoria de fotografia que isso tinha de acontecer. Assim começou a TV Folha, com uma equipe que já estava aqui, que era mais de vídeo e eu trouxe alguns fotógrafos. Em agosto eles me convidaram pra ser o editor de fotografia também, já com a ideia de juntar as duas linguagens e fazer uma editoria só, uma editoria de imagem, que é uma editoria em que vídeo e foto é na verdade tudo uma coisa só. Estamos nesse caminho. Tem vários fotógrafos que já estão produzindo vídeos. Todos eles estão curtindo e estão bem empolgados com isso na verdade. Só não se pode dizer que estamos numa editoria plena, porque ainda não temos câmera na mão de todos os fotógrafos. Estamos esperando a 1DX, que é a câmera nova da Canon, mas de qualquer maneira já tem umas quatro ou cinco câmeras que filmam ali na TV Folha e ela é como uma locadora para os fotógrafos que quiserem fazer vídeo, ele passa lá, pega uma e depois devolve.
FHOX - E o fotógrafo que não quer fazer um vídeo?
Wainer - Isso nunca aconteceu. Se ele não quiser ir, não precisa ir, é claro. A gente chama outro, mas nunca ocorreu. Aqui todos os fotógrafos estão muito a fim de entrar nessa onda do vídeo. Agora mesmo tem um fotógrafo que vai fazer uma viagem e que nunca fez um vídeo e vamos fazer um workshop básico. É impressionante como na maioria das vezes na primeira saída o cara já traz coisa boa. Você dá uma instruída no cara de como deve usar o equipamento e boa. Às vezes ele faz uma bobagem de áudio, não fica muito bom, faz um movimento estranho... Mas não teve nenhum fotógrafo que foi fazer pela primeira vez e que voltou com algo que não pudesse ser utilizado. O fotojornalista com um botão de rec vira um documentarista. Não adianta a gente imitar a televisão, que é outra coisa. Imitar telejornalismo, não funciona! Temos que criar a nossa linguagem. E ela é o documentário, esse é o caminho do jornal no vídeo.
FHOX - O fato de ser difundido, por enquanto pela web, impacta a linguagem?
Wainer - A linguagem nem tanto, mas muda o tempo. A gente não pode fazer coisas muito longas por que as pessoas não assistem na internet. O que não é ruim, por que é um exercício bom de simplificação. Geralmente não passa de 3 minutos. Fica entre três e cinco. Cinco só quando é muito importante. O ideal é três minutos e até coisas mais curtas quando dá. Ou seja, acaba tendo um impacto maior no tempo e consequentemente impacta a linguagem. Mas a gente tem vontade de fazer coisa mais longas. Chamamos de minidocs, nem sei se já existe esse termo, deve existir, são documentários bem curtinhos.
FHOX - O fotógrafo se envolve na edição?
Wainer - Ainda não. E eu acho que nem é o caso dos fotógrafos editarem seu próprio material, fica muito sobrecarregado, a edição é muito demorada. É muito especifico. Claro que o fotografo pode se interessar pela edição e pode vir a editar seu material, mas acho que é demais para ele. O cara tem que fotografar, fazer vídeo e ainda editar, ferrou! O fotógrafo tem que estar na rua produzindo e mandando material para a gente. Eles até estão aprendendo a usar o final cut e o première, mas o que eles estão fazendo mesmo é gravar seu material, especialmente em viagem, fazendo uma edição básica, tirando o lixo, deixando só filé. Fazem um movie inteiro com esse filé e exportam esse movie num formato razoável para transmissão por ftp. O fato é que tem toda uma linguagem que a gente quer trabalhar. O grande desafio era fazer essa linguagem do mini doc acontecer todo o dia, em escala grande. Você tem que ser muito objetivo quando você vai gravar. Não é como quando você faz um longa, que você grava, grava, grava e depois tem mais dois meses editando. Não tem isso! Tem que editar e resolver no dia, portanto a gente tem que ser muito objetivo. Pra ser objetivo você tem que ter mais um menos uma formulinha, um formato de trabalho. Um padrãozinho.
FHOX - Fale um pouco da estrutura e da dinâmica diária de produção na Folha?
Wainer - Nesse primeiro ano de trabalho, a gente estava muito mais focado em desenvolver a linguagem, do que com a audiência ou números. A gente teve liberdade para desenvolver um formato. Agora que o formato já está de pé, nós vamos começar a focar um pouco mais. Como nossos vídeos são mais elaborados. Nós nos abrigamos a publicar pelo menos um bom vídeo por dia. Nem é uma exigência do jornal, mas nós queremos isso. Quando dá, são dois, ou três. Teve momentos de publicar até quatro num dia. Como a gente está usando muito a redação, com jornalista da Folha comentando algum assunto, a gente acabou olhando bastante para dentro.
FHOX - A redação deve ter muito a ser explorado?
Wainer - É eles têm muita pauta, muita coisa que surge aqui, ou passa por aqui. Mas enfim, a editoria de imagem hoje, somando a fotografia e a TV Folha, tem entre 52 e 55 pessoas, contando com tratador de imagens. Fotografia é muito grande, muito mais do que o vídeo. A gente ainda não está totalmente integrado, mas está avançando. O que eu acho importante deixar claro é que o profissional que a gente procura na TV Folha e na fotografia também, é um cara que saiba escrever, fotografar, filmar, que tenha noção de edição e que saiba algumas outras coisas mais também. Mas não quer dizer que o cara tenha que saber fazer isso tudo ao mesmo tempo. O importante é que hoje em dia, do jeito que as coisas estão multimídia, o cara saiba qual a melhor embalagem para aquela noticia. Tem que ter polivalência, sabendo que tem coisa que funciona no vídeo e não funciona no texto. Vou dar um exemplo: a gente tem um vídeo do Dr Ratão. É um cara tão figura, que para você conseguir descreve-lo você vai precisar de cinco paginas para poder traçar um perfil direito. Sendo que num vídeo de três minutos, você mostra tudo com três frases e duas gargalhadas do cara.
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