A imagem e a pesquisa acadêmica
Debater a questão do uso da imagem na composição de pesquisas acadêmicas em ciências humanas. Esse foi o objetivo principal do I Colóquio de Pesquisas em Narrativas Audiovisuais, acontecido semana passada em Fortaleza e organizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Etnicidade e pelo Laboratório de Pesquisa em Mídias Audiovisuais, da Universidade Estadual do Ceará. “Muitas vezes, o uso da imagem não fica muito claro para o pesquisador, que frequentemente a utiliza baseado na emoção. A proposta é pensar metodologicamente o seu uso em diferentes atuações”, afirmou Danielle Araújo, coordenadora do evento.
O ciclo de palestras foi aberto pelo fotógrafo e antropólogo Milton Guran com o tema “A prática fotográfica e a produção de conhecimento nas Ciências Humanas”. Para ele, a mudança de paradigma na compreensão de mundo transitou de uma visão mágica/mítica para a linearidade da visão cartesiana. Assim, a fotografia nasceu herdando essa mistura. Portanto, a imagem guardaria características mágicas, mas com essência cartesiana.
Guran defendeu, ainda, uma “fotografia-eficiente”, usada de acordo com a utilidade que lhe foi atribuída – a fotografia de cunho jornalista serviria a um propósito, a publicitária a outro, assim como a de pesquisa teria sua própria finalidade. Em sua visão, ela não pode ser um método de investigação, como já foi afirmado no passado, mas deve ser uma ferramenta de análise para a antropologia visual.
Outro debatedor, o cearense Tiago Santana, disse sobre o tema “Palavra, imagem e encontros no exercício de ser fotógrafo” que sua relação com a fotografia foi, desde o começo, conduzida por encontros: dele com o ofício de fotógrafo, dele com outros profissionais da área e por outros vários encontros que a fotografia proporciona ao longo de sua prática. Santana comentou ainda seu ensaio “O chão de Graciliano” – que resultou em livro homônimo – e do desafio de interpretar em imagens a obra do escritor Graciliano Ramos.
A fala da artista suíça radicada em São Paulo Cláudia Andujar foi uma das mais esperadas. Ela relatou sua trajetória desde a saída de seu país até as reinvenções de seu próprio trabalho, como fez em sua recente exposição Geração 00, em SP. Na ocasião foi exibido o vídeo “O povo da lua, o povo do sangue Yanomami 1972-1982″, baseado em suas fotografias do povo yanomami que tornaram-se referência internacional no tema.
Dois momentos importantes marcaram ainda o Colóquio: a participação da pesquisadora Raquel Gondim (UFC/Uece) que apresentou o resumo de um estudo sobre o protagonismo comunitário dos moradores da Prainha do Canto Verde, reserva extrativista ao leste do Ceará, e uma mesa redonda com grupos de pesquisa e produtores audiovisuais de Fortaleza.
Colaborou Analice Diniz
Fonte:R.E.D.E.