Ao tomar posse, Rollemberg pede pacto por Bras?lia.foto:Elza Fi?za/Ag?ncia Brasil

06/01/2015 09:09

 No primeiro discurso como governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB) conclamou a população a fazer um pacto por Brasília para enfrentar o que ele chamou de “crise sem precedentes”. “A cidade está destroçada. Os serviços públicos estão deteriorados. Vivemos o maior desequilíbrio econômico e financeiro da história”, disse. Ele pediu ainda o apoio dos 24 parlamentares eleitos pelo DF e disse que tem certeza de que os distritais sabem de suas responsabilidades para reverter a situação da capital.

Rollemberg assinou hoje (1º) o termo de posse na Câmara Legislativa do Distrito Federal e destacou que vai trabalhar para reduzir as desigualdades entre a região central de Brasília e o restante do DF e o Entorno. “Não serei governador voltado apenas às regiões mais ricas, nosso objetivo é reduzir as imensas desigualdades.”

Ele destacou ainda o ideário socialista e citou o nome dos principais líderes do PSB: Miguel Arraes, Eduardo Campos e Jamil Haddad.

O presidente da Câmara Legislativa do DF, Wasny de Roure (PT), quebrou o protocolo e convidou a mãe do governador, Teresa Rollemberg, para compor a mesa.

Nascido no Rio de Janeiro, Rollemberg, 55 anos, é formado em história pela Universidade de Brasília (UnB). Foi deputado distrital por duas vezes. Cumpriu um mandato como deputado federal. Em 2010, foi eleito senador. Ocupou o cargo de secretário de Turismo, Lazer e Juventude do DF no governo do então petista Cristovam Buarque e de secretário de Inclusão Digital do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).fonte:http://agenciabrasil.ebc.com.br/

 

discurso na íntegra

O novo governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), tomou posse na Câmara Legislativa do Distrito Federal na manhã desta quinta-feira (1/1). Emocionado, ele discursou por mais de 30 minutos, lembrando da carreira como parlamentar e reafirmando as promessas de campanha. Rollemberg citou a crise financeira e orçamentária que assola o DF atualmente e afirmou que "as dificuldades não são maiores do que o meu desejo de servir Brasília". Além disso, o novo governador apontou a educação como prioridade em seu mandato. Leia abaixo a íntegra do discurso: 

"Há exatos vinte anos iniciei, nesta Casa, a trajetória que me leva hoje ao honroso posto de governador do Distrito Federal e de nossa Brasília, a capital da República, a capital de todos os brasileiros. Assumi, nesta Casa, uma cadeira de deputado distrital. Naquele momento, ocupávamos as improvisadas instalações em que esta Câmara Legislativa começou a funcionar em 1991, quando o Distrito Federal passou a ter um governador e deputados distritais eleitos.

Ao honroso mandato de Deputado Distrital seguiram-se outro mandato de distrital, um mandato de deputado federal e o mandato de Senador da República, a partir de 2010. Muito aprendi, ao longo desses anos de vida parlamentar. A experiência legislativa me conduziu ao entendimento mais elaborado das demandas da sociedade, ao propiciar meu engajamento na complexa discussão que dá origem ao aparato legal do Estado.

Em minha atuação como parlamentar, sempre me pautei pelo socialismo como fundamento político, fazendo de cada mandato um instrumento de transformação social e de fortalecimento da cidadania, na defesa de propostas que promovessem a distribuição de renda e o desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, busquei amparar minhas decisões no ideário de grandes pensadores socialistas que nos iluminam com sua força intelectual e a sabedoria de seu espírito. 

Entre eles, gostaria de destacar, neste momento, a reflexão memorável de João Mangabeira sobre o sentido da igualdade: 'A igualdade é uma abolição de privilégios dos fortes. Não é, nem pode ser nunca, um obstáculo à proteção que o Estado deve aos fracos. Consiste a igualdade, sobretudo, em considerar desigualmente situações desiguais, de modo a abrandar, tanto quanto possível, pelo direito, as diferenças sociais e por ele promover a harmonia social. Assim, a concepção individualista do direito desaparece ante a sua socialização, como instrumento de justiça social, solidariedade humana e felicidade coletiva.'

Com esse espírito assumo, hoje, o governo do Distrito Federal. Diante da enorme responsabilidade de corresponder à expectativa do povo brasiliense, minha aspiração, neste momento, é viabilizar para as cidades que compõem essa grande área administrativa uma vida digna, em que os sonhos e as expectativas sejam convertidos em realidade, tendo como referência o interesse público e as demandas da coletividade.

A trajetória que me conduziu a este momento é marcada por muitas emoções, por muitos desafios e muitas superações. Mas não teria chegado aqui sem o apoio permanente de minha amada esposa, Márcia, companheira inseparável de vida, e dos meus três filhos, Gabriela, Ícaro e Pedro Ivo.

Não estaria aqui se não tivesse seguido os ensinamentos de minha mãe, Teresa, e de meu pai, Armando. O que sou, e aonde cheguei, devo a eles. E a eles agradeço por terem constituído esta família muito especial, e também muito grande: obrigado, meus irmãos e irmãs, meus cunhados e cunhadas, meus sobrinhos e, muito especialmente, minha netinha Mel.

Agradeço também àqueles que, por sua generosidade e incentivo, me ofereceram um exemplo para minha trajetória política. Em nome deles, presto homenagem a Miguel Arraes, a Jamil Haddad, a Eduardo Campos, líderes com quem tive o privilégio de compartilhar a amizade e de receber ensinamentos que conformaram meu pensamento socialista, democrático e humanista.

Faço aqui, também, um agradecimento especial a todos os companheiros e companheiras, do PSB, de outros partidos e sem filiação partidária, aos meus amigos pessoais, que participaram, ao meu lado, desta trajetória que nos conduziu ao Palácio do Buriti. Quero homenagear a todos que tornaram a vitória possível na pessoa de um companheiro que é um símbolo da nova política: o deputado, hoje senador eleito, José Antonio Reguffe.

Sou da chamada 'Geração Brasília', os que aqui nasceram ou aqui chegaram nos primeiros anos desta cidade. Somos aqueles que cresceram junto com Brasília, que viram os pequenos núcleos pioneiros se transformarem na metrópole de hoje. É uma geração que conviveu com os candangos, com os pioneiros, com aqueles que, com suor e muito trabalho, com sacrifício e com o próprio sangue, mas também com alegria e determinação, construíram uma cidade-capital!

Foram tempos heróicos em que predominavam a solidariedade e o sentimento de coletividade, tempos que se estendem ao momento presente. Aos pioneiros, juntaram-se muitos outros, que, vindos de todos os cantos deste imenso Brasil, e mesmo de outros países, formam hoje, juntamente com seus filhos e netos, a maravilhosa capital de todos os brasileiros.

Brasília é a prova viva da capacidade de realização do povo brasileiro. Somos todos, brasilienses por nascimento ou por adoção, parte desta epopeia. E, com esse sentimento forte de sermos brasilienses, quero reafirmar o lema da campanha vitoriosa que hoje me leva ao governo do Distrito Federal: Somos todos Brasília!

Esse lema não se perdeu nos embates eleitorais, permanece vivo e atual. Sim, somos todos Brasília, porque Brasília não é apenas o Plano Piloto traçado por Lucio Costa, nem somente os monumentos arquitetônicos de Oscar Niemeyer. Brasília é todo o Distrito Federal.

Somos todos Brasília, porque somos todos habitantes desta magnífica cidade, que é ao mesmo tempo estado e município, que é nossa aldeia e nossa metrópole, e que, por esses atributos peculiares, foi reconhecida pela UNESCO “Patrimônio Cultural da Humanidade”!

Somos todos Brasília, e por isso vou governar para todos os brasilienses. Não serei governador apenas dos que votaram em mim, serei governador para todos.

Não serei um governador voltado apenas para as regiões mais ricas e para os que vivem na área central da cidade. Serei um governador que vai trabalhar para todos, e em especial para os que mais necessitam da ação do Estado. 

Não tenham dúvida, nosso objetivo é reduzir as desigualdades entre a região central e as cidades que a circundam. Entre os que muito têm e os que nada têm. Resgatando as sábias palavras de João Mangabeira: nossa prioridade será atender aos que mais precisam do Estado.

Senhoras e senhores, vivemos, todos sabem, uma crise sem precedentes em Brasília. A cidade está destroçada, os serviços públicos estão deteriorados. Os servidores públicos e prestadores de serviços chegaram ao final do ano sem receber o que lhes é devido. Não preciso me estender sobre os prejuízos de tal situação para cada pai e cada mãe de família, para cada trabalhador. Esse quadro lamentável é visível a olho nu.

A situação econômica é grave, gravíssima! Vivemos o maior desequilíbrio orçamentário e financeiro da história de Brasília, e isso exigirá de todos nós – governo, poderes e sociedade civil – uma postura altiva, firme, solidária, propositiva e eficiente para podermos equilibrar as contas públicas.

Sem o equilíbrio das contas não haverá o desenvolvimento sustentável que tanto buscamos. Brasília, a cidade-monumento, a cidade-capital, a cidade símbolo de uma nação, não pode continuar sendo identificada pela corrupção, pelos desmandos, pela ineficiência da gestão pública. Quem ama Brasília tem de se indignar, tem de lutar contra isso.

Por isso, brasilienses, conclamo a todos para firmarmos um Pacto por Brasília! Não vamos nos iludir. Sem o apoio da população, sem a participação da sociedade civil organizada e das instituições públicas, o governo não conseguirá superar a situação lamentável em que estamos.

Trata-se de estabelecer uma união em torno de um objetivo comum a todos nós: tirar o Distrito Federal desta terrível situação e fazer de nossa cidade um lugar em que possamos viver, trabalhar, investir, com dignidade, que possamos visitar e apreciar, onde possamos receber o turista, com orgulho e entusiasmo. Para tanto temos de caminhar juntos, rumo ao nosso destino compartilhado de fazer dessa cidade uma criação coletiva.

Senhoras e senhores, dirijo-me, agora, em especial, aos 24 deputados eleitos pela vontade do povo. A disputa eleitoral termina com o fechamento das urnas. Após a proclamação do resultado, permanecem as divergências políticas e ideológicas, mantêm-se as diferenças que nos levam ao embate democrático.

Mas acima de tudo está o povo, que, independentemente de como votou, ou mesmo se não votou, espera de nós, líderes eleitos, a disposição de trabalhar em benefício da população. Cabe a nós mostrar ao povo que a política e os políticos podem trabalhar para o bem-estar da população. Vamos juntar nossas forças, para fazer de Brasília uma cidade melhor. Um exemplo para o Brasil!

Do Senado Federal trago o ensinamento de um dos maiores símbolos da política nacional, Rui Barbosa: 'Com a lei, pela lei e dentro da lei; porque fora da lei não há salvação'.
Atuaremos sempre dentro e nos limites da Lei, porque temos o compromisso de honrar o povo do Distrito Federal, de honrar a Constituição Federal, a Lei Orgânica do Distrito Federal e as leis que nos regem.

Nosso governo se pautará pelos princípios estabelecidos em nosso programa, apresentado à população durante a campanha eleitoral: faremos um governo democrático, ético, participativo, transparente e inovador. Promoveremos a democratização de direitos e oportunidades. Trabalharemos pelo desenvolvimento sustentável e integrado.

Vamos atuar com transparência, sem esconder números e informações. Informar é obrigação do Estado. O dinheiro arrecadado pelo Estado é público, nunca privado. Cada centavo, cada real que o governo gasta tem de estar comprometido com o bem-estar da sociedade, e tem de ser informado à sociedade.

Queremos ser competentes, eficientes. Vamos trabalhar em parceria com a sociedade civil organizada, que examinará, fiscalizará e controlará os gastos públicos para evitar o desperdício e a corrupção. Precisamos deixar para trás a desorganização administrativa, o descalabro gerencial, a irresponsabilidade com a coisa pública.

Faremos um governo com austeridade, com diálogo e com participação popular, com transparência, com ética e honestidade. Esses são os nossos valores e este é o nosso compromisso.

Seremos austeros porque não se justifica o esbanjamento, o desperdício e o mau gasto do dinheiro público. Seremos austeros em respeito a esse imenso contingente de nossa população, que não tem suas necessidades essenciais atendidas. 

Em nosso governo, haverá diálogo e participação popular, porque esse é um dos fundamentos do verdadeiro socialismo e da verdadeira democracia. Teremos um governo ético e honesto. A corrupção, venha de onde vier, será combatida com todos os instrumentos legais e administrativos de que dispomos.

Não haverá, tenham certeza, a mínima conivência ou complacência com a corrupção. Vamos dar prioridade, como disse, aos mais necessitados, aos que mais precisam dos serviços públicos. Nossa meta será a eficiência, porque o povo precisa que o Estado atue com presteza, com agilidade e com qualidade nos serviços públicos que presta. Trabalharemos para combater a burocracia, que prejudica o povo e é porta de entrada da corrupção.

Para concluir, entre tantos temas a serem debatidos, permitam-me destacar um, por seu papel central para o desenvolvimento da sociedade, ao qual prometo me dedicar com todas as forças: a educação. 

Educação é nossa prioridade! E para sintetizar nosso pensamento, trago as palavras do grande educador Anísio Teixeira, que tanto fez pelo Brasil e por Brasília: 'Educar é crescer. E crescer é viver. Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra. Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública.'

Senhoras e senhores, não há salvador da pátria. Há, sim, o trabalho coletivo. Procurei reunir uma equipe preparada, entusiasmada e disposta para, junto com o vice-governador Renato Santana, garantir o diálogo permanente com a população.

As dificuldades nos animam, porque somos forjados na luta. Vamos enfrentá-las, todas. E vamos vencê-las, juntos, unidos. Jamais desistiremos do sonho de JK e dos demais fundadores de fazer de Brasília uma cidade mais justa, mais igualitária e um exemplo para o Brasil.

Neste momento em que me dirijo à população de Brasília com o olhar voltado para o futuro, gostaria que nossas intenções fossem acolhidas por intermédio do pensamento iluminado de Santo Agostinho, que nos propõe a seguinte indagação: “Quem se atreve a negar que as coisas futuras ainda não existem?”, e a resposta ele mesmo nos traz por outra pergunta: 'Não está já no espírito a expectação das coisas futuras?'

Sim, senhoras e senhores, nossas expectativas existem em nosso espírito, sua manifestação é o resultado da profunda fé que existe dentro nós, que nos fortalece em Deus, e nos faz atentar para o que precisa ser feito, e para o que nos cabe realizar. Viva Brasília! Viva o povo brasiliense!

Viva Brasília! Viva o povo brasiliense. Muito obrigado!"

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