Di?rios de instantes, de Jos? Bezerra Segundo.

24/03/2014 20:11

 

SONY DSC“A fotografia é um detalhe dessa questão: quando eu saio pra fotografar, saio pra colecionar histórias. A fotografia serve para ilustrar essa história” – J. B. Segundo

Foi assim que surgiu a série Diário de Instantes, de José Bezerra Segundo. Interessado pelas histórias desconhecidas da área rural de Mossoró, o fotógrafo percorreu pequenas comunidades fotografando e conversando com as pessoas que encontrava pelo caminho.

Suas imagens, que revelam de maneira intrigante a intimidade dos personagens, transportam o expectador para dentro deste universo singular. Para criar essa relação, ele chega com calma e conversa muito com cada um. Às vezes, nem fotografa de primeira: passa a tarde inteira conversando, para voltar no dia seguinte com tudo o que quer registrar em mente. “Quando eu tiro a câmera para fotografar, a pessoa nem percebe”, diz José.

Mas muito além de explorar a beleza das individualidades, o fotógrafo carrega no seu trabalho um forte caráter social, anti consumista e politizado. Para ele, essas realidades precisam ser lembradas, expostas e valorizadas. São uma forma de conscientização em relação ao que precisa ser transformado e, por outro lado, podem ser observadas como exemplo de um estilo de vida muito mais simples e menos consumista: “Acho importante reviver essas coisas não como explorador da miséria alheia, mas como contador dessa história. As pessoas precisam ter consciência do que está acontecendo”.

Fotógrafo Amador?

O primeiro contato do IIF com o fotógrafo José Bezerra aconteceu através da  comunidade Fotógrafo Amador, com a qual a escola tem uma parceria. A dinâmica é simples: toda semana é lançado um desafio com um tema na comunidade, e professores do IIF são eventualmente convidados para escolher as fotos vencedoras, dando dicas e conselhos sobre os resultados.

Foi numa dessas avaliações que o trabalho chegou ao IIF de José. Suas fotografias impressionaram pela alta qualidade e sensibilidade, nos fazendo questionar o que pode ser definido como amador ou profissional. Afinal, o amadorismo ou profissionalismo têm relação direta com a qualidade das imagens produzidas pelo fotógrafo?

José, por sua vez, se assume completamente como fotógrafo amador: não o faz por dinheiro, e no momento, não tem planos para transformar a atividade em sua principal fonte de renda. Especialmente porque não quer descaracterizar o seu trabalho, sempre mantendo as temáticas sociais.

Autodidata, José aprendeu tudo o que sabe pela internet, sobretudo acompanhando as aulas do professor Sit Kong Sang. Comprou sua primeira câmera semi profissional em 2009, e desde então desenvolve seu trabalho com muito estudo. Como referências evidentes no seu trabalho, traz grandes fotógrafos como Sebastião Salgado e Henri Cartier-Bresson, cujos trabalhos analisou profundamente ao longo dos anos. O gosto pela fotografia documental, linhas, simetria e até mesmo a escolha do P&B pode ser justificada por essas fortes influências no seu trabalho.

As histórias

Convidamos José Bezerra Segundo para contar algumas das histórias que coleciona por aí. Confira:

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Uma das técnicas usadas para amansar equinos consiste em colocá-lo dentro d’água, de modo que a água reduza consideravelmente a força e agilidade do animal. Esta é uma técnica pouco utilizada atualmente. Numa das andanças pela zona rural de Mossoró/RN me deparei com a cena; uma família, sendo o pai, três meninas e dois meninos. O pai, entrou com o animal arisco dentro d’água e começou a instruir seu filho como montar e domar. A cena registrada captou o momento em que o pai orientava o filho como tomar as rédeas.

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Quando o filho tentou tomar as rédeas, a égua saiu em disparada. Mesmo dentro d’água a força do animal foi tanta que conseguiu arrastá-lo. Em seu teste decisivo, sob os auspícios do pai, o garoto mostrou que aprendera. Mesmo sendo levado pelo animal conseguiu domá-lo usando a força das mãos e o peso do próprio corpo junto a densidade da água. O animal enfim, depois de alguns minutos se rendeu ao seu novo dono.

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Era um tarde de sábado. Enquanto tomava delicioso café, a senhora e amiga ruralista de Felipe Guerra/RN contava história sobre a seca de 1930. A história contada pelo seu pai, um senhor duro na queda, com 98 anos, retratava a infância sofrida de quem tinha de acordar as 5h da manhã para coletar a macambira na vegetação espinhenta do semiárido nordestino. Depois de colhida voltava para casa e ajudava os pais e demais irmãos a limpar, ralar e preparar a massa para fazer o famoso pão de macambira. Tudo isso para comer no almoço. Uma história tocante no qual tive o privilégio de ouvir e registrar o momento através da fotografia.

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Enquanto caminhava pela comunidade do Chafariz, zona rural de Mossoró/RN, avistei um pescador, que estendia sua rede em um dos canais formados pela barragem. Me aproximei e começamos a dialogar. Adentrei na água e fiquei bem próximo, registrando seus movimentos. Todavia não se tratava de um homem simples do campo, mas alguém que hoje morava na cidade, filho de importante fazendeiro da região. Enquanto me ensinava como pegar uma traíra da rede, compartilhou a importante e feliz experiência que o faz retornar a sua infância e mocidade através desta atividade pesqueira.

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Explorando as belezas da praia de São Cristóvão, comunidade praieira do município de Areia Branca/RN, surge ao longe a silhueta de um pescador. Na aproximação, percebo que ele acompanhava a secagem de algumas partes recém pintadas de seu barco. Em meio ao diálogo, citou causo da tripulação de 4 pescadores que haviam naufragado naquelas águas. Citou ainda que apenas um sobreviveu. A história, em seu resumo, contava o drama destes quatro homens em buscar da sobrevivência em meio ao mar aberto. Fiz o registro como lembrança desta incrível história, que infelizmente não teve um final feliz para todos.

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Rumava em buscar de um bom local para acompanhar o pôr do sol em meio a paisagem sertaneja. Caminhava pelas veredas do Boqueirão, comunidade rural de Campo Grande/RN. Alcançamos o açude, com vista da Serra do Cuó ao fundo. Dois senhores acompanhavam, as margens do açude, um habilidoso pescador. Normalmente são necessários duas pessoas para pescar com rede, sendo um para remar outro para ir acomodando a rede estrategicamente. Este tipo de pesca é feito sempre ao final do dia, pois a rede só é retirada no amanhecer do dia seguinte. Os dois homens enalteciam as habilidades deste pescador que conseguia fazer tudo sozinho, e ainda sem usar remos. O pescador senta ao fundo da canoa e bate as pernas na água, deslocando a canoa para onde queira. Sem dúvidas, de uma habilidade incrível.

Para acompanhar seu trabalho pelo Facebook, siga: https://www.facebook.com/JBSegundoFotografia?fref=ts. fonte:http://www.iif.com.br/

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