No campo de refugiados de Yida, uma m?dia de cinco crian?as menores de cinco anos morre a cada dia; em Batil, uma em cada tr?s est? desnutrida

19/08/2012 13:09

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© Paula Bronstein/Getty Images
 
 
 
2 de agosto de 2012 – Novos estudos realizados em dois campos de refugiados no Sudão do Sul apontam índices de mortalidade e desnutrição acima do patamar de emergência estabelecido internacionalmente, anuncia a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF).
 
Mais de 170 mil refugiados cruzaram a fronteira em jornadas extremamente traumáticas para escapar de conflitos e insegurança alimentar nos estados de Nilo Azul e Kordofan do Sul, no Sudão. Muitos tiveram de andar por semanas para chegar a quatro campos de refugiados em condições de extrema fraqueza e vulnerabilidade. Em dois dos campos, em particular, as precárias condições de vida estão tendo consequências devastadoras. Desde junho, uma média de cinco crianças morre por dia no acampamento de Yida e uma em cada três crianças está desnutrida no campo de Batil.
 
 “O número de crianças morrendo no campo de Yida é estarrecedor e as 1200 que apresentam desnutrição severa aguda no programa de nutrição de MSF no campo de Batil são apenas a ponta do iceberg”, conta André Heller-Pérache, coordenador geral de MSF. “A maioria dos nossos pacientes em ambos os acampamentos são crianças desnutridas que ficam mais enfraquecidas quando têm diarreia, malária ou infecções respiratórias. Elas rapidamente entram em um círculo vicioso de doenças que podem levar a complicações e à morte. Nossas equipes médicas estão trabalhando sem parar em condições desesperadoras tentando salvar vidas.”
 
No campo de Yida, que abriga os 55 mil refugiados no estado de Unity, novos estudos epidemiológicos de mortalidade realizados em junho e julho apontam quatro mortes a cada 10 mil crianças com menos de cinco anos por dia, o que representa o dobro do patamar de emergência. Isso indica uma média de, ao menos, cinco crianças morrendo por dia no campo nesse período, a maioria por conta de diarreia e infecções graves. A mortalidade global nesse mesmo período está duas vezes acima do patamar de emergência, com duas mortes a cada 10 mil pessoas por dia. O estudo, finalizado no dia 27 de julho, demonstrou que 82% das famílias de refugiados tiveram ao menos um caso de doença entre seus membros nas duas últimas semanas.
 
No campo de Batil, que abriga cerca de 34 mil refugiados no estado do Alto Nilo, resultados preliminares de outra pesquisa epidemiológica de MSF finalizada em 31 de julho apontam índice de desnutrição global entre crianças de 27,7% e índice de desnutrição severa aguda de 10,1%: cinco vezes mais elevado que o patamar de emergência. Ainda pior é a situação das crianças: 44% com menos de dois anos estão desnutridas, sendo que 18% delas apresentam desnutrição severa aguda. O estudo também demonstrou índice de mortalidade para menores de cinco anos de 2.1 por 10 mil pessoas por dia no acampamento – acima do patamar de emergência -, em um período de quatro meses. Enquanto as análises finais e o estudo completo ainda estão em andamento, as equipes de MSF temem que o índice de mortalidade nas últimas semanas seja muito maior.
 
 “A estação das chuvas transformou esses acampamentos em pesadelos para os refugiados”, diz Bart Janssens, diretor de operações de MSF. “As vias de acesso estão se desintegrando e a resposta humanitária está batalhando para fornecer condições nas quais as pessoas possam viver. Isso tudo está transformando a situação de saúde em uma catástrofe, e ainda que MSF possa continuar a levar tratamento, é necessário urgentemente um grande aumento da capacidade humanitária para evitar que muito mais crianças fiquem doentes com risco de morte. Principalmente no que diz respeito à água e ao saneamento, já que a diarreia é a maior causa de morte nos acampamentos, e também para distribuição de alimentos em Batil, onde a taxa de desnutrição está muito acima do limiar de emergência. A situação demanda que todas as organizações atuem com força total e agora.” 
 
Principal provedor de assistência médica em todos os quarto campos de refugiados dos estados de Alto Nilo e Unity, MSF está liderando uma resposta em massa. No campo de Yida, o número de leitos em hospitais acaba de dobrar para permitir o tratamento do crescente número de pacientes gravemente doentes. Considerando todos os quatro campos de refugiados no Sudão do Sul, MSF tem mais de 180 profissionais estrangeiros atuando em campo e está enviando mais reforços para atender às necessidades massivas de saúde. 
 
 
Referências para interpretar taxas de mortalidade e desnutrição
Patamares estabelecidos para situações de emergência
Taxa de Mortalidade Bruta (população total) = 1 morte/10 mil pessoas/dia
Taxa de Mortalidade de Crianças com menos de 5 anos = 2 mortes/10 mil crianças/dia
Desnutrição Infantil Global (total de desnutrição severa e moderada) = 15%
Desnutrição infantil e severa aguda = 2%
 
Desde novembro de 2011 MSF tem desenvolvido programas de emergência para atender refugiados dos estados de Kordofan do Sul e Nilo Azul. MSF tem um hospital em cada um dos quatro acampamentos (Batil, Doro, Jamam e Yida) e tem realizado mais de 9 mil consultas por semana. 150 novos pacientes são internados para cuidados intensivos a cada semana e 2.300 crianças desnutridas são tratadas nos programas de alimentação terapêutica de MSF. MSF também está vacinando refugiados recém-chegados contra o sarampo, auxiliando na garantia de água e saneamento nos acampamentos e entra em cena, quando necessário, realizando distribuições emergenciais de itens básicos para sobrevivência, como sabonete, lonas plásticas e alimentos.Acesse http://www.msf.org.br/ 

A independência do Sudão do Sul faz seu primeiro aniversário, no dia 9 de julho, e as equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) estão batalhando para salvar vidas em meio a uma das mais complicadas e desafiadoras crises de refugiados de sua história. Marcados pela violência, cerca de 100 mil refugiados sudaneses, muitos deles doentes, procuraram abrigo nos acampamentos do estado de Alto Nilo, que se mostraram inadequados em termos de recursos e com duras condições de vida. Aqui, fazemos uma retrospectiva do ano que culminou com essa emergência.

Com o sistema público de saúde do Sudão do Sul beirando o colapso, uma série de emergências surgiram durante o último ano, culminando em um impressionante número de refugiados com necessidades médicas ao longo da fronteira com o Sudão.© Redux

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