Fotografo:Paolo Roversi. por Filep Motwary.

18/06/2012 13:52

 

Paolo Roversi

maio 19, 2012 § Deixe um comentário

Em entrevista concedida à Filep Motwary, Paolo Roversi fala sobre seu trabalho como fotógrafo de moda e o que ele pensa a respeito da fotografia digital e fotógrafos como Mario Testino e Terry Richardson. Roversi é um dos mais respeitados fotógrafos da alta-costura. Suas fotos possuem uma paleta de cores e atmosfera que já se transformaram em sua asinatura, permitindo aos seus espectadores  identificar o artista por trás da obra. (VIA)

Motwary: Mr Roversi, por que você acha que a fotografia tem sido uma forma de arte tão interessante durante todos esses anos?

Roversi: Eu acho que a fotografia é um meio fantástico. Quando foi introduzida pela primeira vez no século XIX, a primeira coisa importante sobre isso foi que a fotografia se tornou um veículo para apresentar a realidade. Pinturas e esculturas eram apenas representações, não? A fotografia é exatamente como um espelho, que reflete uma forma idêntica ao que ela é. Eu acho que esta é a magia sobre ela. Para mim é algo maior. É uma revelação, dentre outras coisas.

Motwary: Você insiste em trabalhar com uma câmera Polaroid desde a década de 1980. Como esta obsessão começou?

Roversi: Assim que eu descobri este tipo de filme fiquei encantado. Mesmo nos dias atuais, ainda me sinto desta forma, e eu não sei  justificar o porquê.Você sabe, quando você se apaixona por algo – talvez tenha sido a cor, o contraste.Isto tornou-se a minha paleta imediatamente. Também comecei a trabalhar com esta câmera por causa do seu tamanho, o formato  8 × 10. Tirar fotografias uma por uma é um procedimento lento. Eu encontrei meu caminho através desta câmera, como trabalhar. Foi a forma ideal de me expressar. Até agora, eu sei muito bem. Tornou-se uma parte da minha pele, meu sangue.

 
 
 

Motwary: Como você lida com a atual demanda por fotografia digital, retoques e vídeo? Você se sente ameaçado?

Roversi: Não, não. Não sou contra novas técnicas. Eu trabalho com a Polaroid, mas também trabalho com filmes, cabines de fotos e até câmeras de plástico. Não tenho nenhum complexo em tentar coisas novas porque no final do dia, estamos a falar de novas técnicas. Tudo é sobre a luz. Eu não me importaria se não houvesse mais Polaroid, porque sempre posso encontrar uma nova maneira de contar a minha história.

Motwary: Existe uma uniformidade óbvia em suas fotografias. O que você acha que torna seu trabalho tão interessante?

Roversi: [risos] Eu não sei se é interessante! Espero que seja, pelo menos para alguém. Acho que minha fotografia é honesta, é um reflexo de quem eu sou, o que eu sinto. Ao utilizar os sentidos, eu tento ser um pouco mais pessoal, para mostrar um pedaço de mim no meu trabalho.

Motwary: Com seus trabalhos antigos, a passagem do tempo faz com que pareçam mais atuais do que quando foram publicados pela primeira vez. Como você olha para as suas fotografias antigas?

Roversi: Elas fazem parte da minha vida, minha vida fotográfica. Eu retorno a elas, mas não porque eu não queira viver no presente. Sempre espero que minha próxima foto seja melhor, que amanhã eu tire outra e mais outra.Mas quando eu olho para o meu antigo trabalho me sinto tocado, porque eu tenho memórias associadas a cada um, e os sentimentos vem à tona novamente. Às vezes eu até mesmo o vejo de uma maneira nova, mais emocionante do que quando eu os tirei.Quando eu tiro uma foto eu sempre fico surpreso, e isso me faz feliz, porque o resultado é sempre diferente do que eu esperava.

Motwary: Então, de certa forma, você procura um conselho do seu “velho eu” sobre como ser o “novo” você.

Roversi: Sim, exatamente. Às vezes eu acho coisas que eu não percebi quando eu tirei a foto.

[...]

Motwary: Seus modelos, há sempre algo muito honesto sobre eles.

Roversi: Eu trabalho de uma maneira muito simples com eles. Quando eu os descubro, eu tento sempre encontrar algo que me toque em seus rostos, se existe uma troca profunda e um pouco de mistério sobre eles. Eles me fazem sonhar: por meio deles, tudo passa a existir. Fico muito seduzido pela estranha beleza que eles oferecem e a questão de saber se eu posso tocar ou não, se eu posso descobrir ou não. A verdade é que eu gosto de ficar perdido quando eu olho para eles.

[...]

Motwary: E sobre a mídia social, você acha que a indústria está se deslocando da impressão para a web?

Roversi: Isso já está acontecendo de qualquer maneira, por isso, mesmo que eu responda sim ou não, se é melhor ou pior, não mudaria nada. Qualquer um pode ver como as coisas estão se movendo agora. Claro que fui educado para ver uma fotografia como um objeto ao invés de uma imagem, não apenas uma Polaroid flutuando na tela do computador. Pode-se cheirar e tocar, adorar e enquadrar uma fotografia; colocá-la em uma parede, sobre uma mesa, no seu bolso. As coisas se tornaram muito mais efêmera estes dias. As coisas aparecem e desaparecem na tela de um iPhone ou um computador, e até logo!Eu realmente sinto falta do álbum de família e as fotos que você colocava na carteira. Hoje todo mundo tem uma tela. Uma das minhas memórias favoritas do meu pai era o nosso retrato, seus filhos, em sua carteira. Eu sou nostálgico.

Motwary: Como você se sentiu quando a moda começou a tomar um rumo mais chamativo, comercial,  cerca de uma década atrás, com Mario Testino e Terry Richardson, então?

Roversi: Isso é bom! Eu acho que é como esse negócio funciona. A moda está mudando a cada mês, e o mesmo vale para a fotografia de moda. A pior coisa para alguém na moda é ser chamado de retrógrado. Todas estas pessoas trazem coisas novas e recentes. Não é mais uma questão de qualidade. Trata-se de novas energias, novas idéias.

Motwary: Concordo, mas nos anos 70 ou 80, por exemplo, tivemos artistas como Guy Bourdin ou Helmut Newton. A moda está ficando cada vez mais descontraída?

Roversi: Claro que eu não vou comparar Testino com Newton, cada um deles tem sua própria visão e abordagem. Na verdade, as coisas tornaram-se mais fáceis com todas estas novas câmeras e tecnologia. A qualidade também. Mas isso faz parte do tempo que estamos. Se você comparar a forma como Balenciaga ou Dior fizeram um vestido no passado e, em seguida, como fazem agora, você pode ver que nada é igual. Não é sobre o instante, é o que nossos tempos exigem.Tudo é mais rápido agora. Você sabe, Guy Bourdin podia levar três ou quatro dias em 10 páginas ou mais. Hoje, Testino ou Richardson tem um dia para 20 páginas.Então, sim, os tempos mudaram.

Motwary: Como você vê o futuro da fotografia?

Roversi: Eu não tenho uma bola de cristal na minha frente. [Pausa] Eu vou lá em cima, tirar a próxima foto e te direi.  Eu irei te dizer amanhã.

 
 

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