Fotografia | O futuro da fotografia, segundo Laforet
Vincent Laforet foi o primeiro fotografo/diretor de fotografia que alertou sobre as possibilidades abertas pelas novas DSRLs, como a 5D Mark II. Seu clip “Reverie”, um vídeo em linguagem publicitária publicado em outubro de 2009, na semana que antecedeu o lançamento mundial da câmera, apresentou muitas das características que ajudaram a alavancar o que ele mesmo gosta de chamar de “Revolução das DSRLs”: ótima latitude, a versatilidade no uso da ótica, o uso (e abuso) de uma estética baseada na pouca profundidade de campo, o pequeno volume de equipamento e da equipe necessários para gerar as imagens, dentre outras.
Desde então, e ainda hoje, apesar do gosto para lá de duvidoso e excessivamente carregado de clichês de sua produção publicitária, ele é visto por muita gente como um Papa quando o assunto é tecnologia de produção de imagem digital (vídeo ou fotografia). E sua inserção profissional como consultor das principais empresas da indústria, o coloca numa posição privilegiada para falar do futuro da imagem. Contudo, é bom ressaltar, a visão de Laforet começa e acaba no campo da produção comercial publicitária e aquela a elas associadas. Ele não tem qualquer reflexão voltada para a fotografia de arte, ou para a fotografia de informação (documental ou fotojornalística, por exemplo). Nesses campos, as imposições tecnológicas são recebidas e processadas a partir de uma outra lógica criativa, que Laforet não toca.
Em uma entrevista ao ótimo blog APhotoEditor.com, Laforet fala sobre várias coisas, mas o que ressalta de sua fala é a próxima transformação virá n campo da indústria: o fator RED. A RED é uma fabricante de câmeras de altíssima resolução que visava como mercado principal a indústria do cinema. Como seu site indica, a RED tinha como objetivo orientador superar as limitações do HD, que na visão da empresa era um passo atrás em relação ao filme de 35mm. Para isso, desenvolveu uma tecnologia que pudesse igualar, quando não superar, as características da película. O seu primeiro lançamento, a câmera RED One, já causou um abalo no mercado. Por conta de seu fluxo muito menos trabalhoso e econômico, além de seu preço muitas vezes menor que o das câmeras de película, produtoras independentes em diversas partes do mundo, utilizaram a RED em toda sua produção, ou ao menos como uma câmera adicional. (já falei sobre as características da nova RED, a RED Epic em outra postagem.)
Mas quais as consequências do crescente espaço que a RED tende a ocupar na produção digital? Para Laforet, o vídeo e a fotografia (inclusive como profissões) tendem a convergir (algo também sobre qual já escrevi aqui). Segundo ele, a alta qualidade das imagens produzidas por essas câmeras, imagens de 5K (ou seja, 5120×2540), a 98 frames por segundo, permitem retirar frames individuais com alta qualidade para muitos usos. Com o aumento dessa capacidade nos próximo anos, com a produção de imagens em 8, 10 ou 12k, a fotografia como uma prática isolada ficaria em situação mais difícil.
Apenas para exemplificar, basta pensar que, a partir do momento em que a tecnologia permita o uso de frames individuais retirados de um video para usos mais amplos, uma produtora que não contrate alguém capaz de fotografar e filmar ao mesmo tempo (o que poderá ser feito com o mesmo equipamento) terá gastos maiores de recursos e tempo em relação a um concorrente que faça uso de um profissional que transite entre essas duas mídias. A médio prazo, portanto, ao menos no campo da fotografia comercial (publicidade, casamentos etc) a tendência é uma convergência cada vez maior entre fotografia e vídeo.
Uma câmera RED Epic completa, no entanto, ainda está longe da maioria daqueles consumidores que foram responsáveis pelo intenso uso e disseminação do vídeo digital via DSRLs. Ela custa aproximadamente 58 mil dólares, um preço mais ou menos próximo do de uma câmera de médio formato de alta qualidade (Hasselblad, Phase One) e um par de objetivas.
Entretanto, os preços tendem a cair com o aumento do consumo. E nos próximos anos, a medida que RED se popularizar, as fabricantes tradicionais do campo da fotografia sentirão a pressão de trazer para seus produtos as características que permitem hoje que a RED promova a convergência entre fotografia e vídeo em outro patamar. Pelo que deixa escapar Laforet, é justamente a indústria das câmeras de médio formato que sentirá o impacto da RED. Segundo ele, fotógrafos de moda como Bruce Weber, Mark Seliger and Annie Leibovitz já estão usando a RED Epic.
Perguntado se a “Revolução das DSRLs” chegou ao fim, Laforet é enfático em dizer que não. Ele próprio não pretende vender sua 5D Mark II tão cedo. Contudo alerta para as grandes transformações que a RED tende a provocar na indústria.
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