O país mais negro do mundo fora do continente africano ainda hoje cultiva uma imagem embranquecida nas produções cinematográficas. Nos últimos anos, políticas afirmativas, fruto da luta dos movimentos populares, permitiram que muitos negros acessassem universidades historicamente elitizadas, como é o caso das escolas de cinema. Como fruto desse processo de reparação histórica, surgem histórias que contam sobre o outro lado da grande História.
Na hora do "luz, câmera, ação", o silêncio histórico é rompido e há mulheres negras e periféricas encabeçando suas próprias narativas e se colocando como protagonistas das produções.
O processo de apagamento da contribuição das mulheres negras no audiovisual foi intenso. Recentemente, diretoras negras descobriram Adélia Sampaio, considerada a primeira cineasta negra a dirigir um longa-metragem.
Sampaio foi apagada da história do cinema. É por ela que Brasil de Fato inicia sua lista com nomes do audiovisual que no passado e no presente seguem apresentando novas histórias sobre o que é ser mulher e negra.
São cinegrafistas, produtoras, roteiristas, editoras e da fotografia. Cada uma delas carrega em seus trabalhos a resistência, a força e o protagonismo de serem mulheres negras e latinas nas artes em um país que ainda não está acostumado a reconhecer a autoria de uma obra visual assinada por mão não brancas.
Confira a lista:
Audiovisual
1. Adélia Sampaio
É a primeira negra a dirigir um longa-metragem no Brasil – Amor Maldito, lançado em 1984, que também é considerado o primeiro filme lésbico brasileiro. Além do longa, Adélia dirigiu três curtas entre as décadas de 70 e 80.
2. Yasmin Thayná
A cineasta Yasmin Thayná é fundadora do canal de streaming colaborativo “Afroflix”, curadora da Festa Literária das Periferias (FLupp) e diretora do longa “Kbela, o filme”, que fala sobre o embranquecimento na sociedade e a difícil tarefa das mulheres negras em se adequarem aos padrões e suprimirem sua identidade.
3. Viviane Ferreira
Viviane é cineasta baiana que vive em São Paulo. Lançou o filme O dia de Jerusa, que em 2014 foi selecionado para o Festival de Cannes, na categoria “curta-metragem”. O filme traz à tona uma reflexão sobre a velhice e a solidão.
4. Juliana Vicente
A diretora, produtora e roteirista Juliana Vicente fundou a produtora “Preta Portê” filmes, que fomenta o cinema de inclinação social e que promove a diversidade. Ela é diretora do curta "Cores e Botas", de 2010, que mostra a vontade de uma criança negra em ser "paquita" do programa da apresentadora infantil Xuxa. Em 2013 lançou “Olho de Zarolho”, uma fábula sobre a família moderna. Em 2015 dirigiu o documentário “Minas do Rap”, que narra a trajetória de mulheres negras mc’s como Mc Soffia e Negra Li. Produziu o clipe “Mil Faces de Um Homem Leal”, da banda de Rap Racionais Mc’s e está em fase de captação de recursos para documentar os 25 anos do grupo.
5. Renata Martins
Renata Martins é idealizadora do projeto “Empoderadas”, junto com mais dez mulheres negras comunicadoras. É diretora do filme "Aquém das Nuvens", premiado e exibido em mais de dez países.Além disso é roteirista colaboradora na nova temporada de “Malhação, Viva a diferença", da Rede Globo, que foi elogiada por estar mais inclusiva e diversa.
6. Karoline Maia
Karoline é uma das diretoras da web série "Nossa História Invisível", lançada no ano passado e que narra os percalços de mulheres negras em 10 episódios. Ela divide a direção com outras cineastas negras: Agnis Freitas, Camila Izidio e Carol Rocha. Confira o primeiro episódio da série, com a blogueira negra e trans Rosa Luz:
7. Badu Badu
A artista compõe o coletivo de inclusão artística "Nagô" e é uma das diretoras do documentário homônimo que será lançado nesta quinta (27), no Centro Cultural da Juventude (CCJ) Nova Cachoeirinha. O filme é produzido por negros e negras e feito para dialogar com eles e elas também, abordando pontos dolorosos da identidade negra na sociedade racista.
8. Fernanda Lomba
A paulistana Fernanda Lomba é produtora executiva e coordenadora de produção. Ela participou do projeto "Foice a Face - representatividade negra nas artes", rodado em Salvador, no ano passado.
9. Joyce Prado
A cineasta é diretora, editora e captou imagens para o filme "Okán Mímó: Olhares e palavras de afeto", uma série de demonstrações de amor dos adeptos do candomblé pelos seus orisás, voduns e inkises por meio da palavra.
10. Day Rodrigues
Day Rodrigues é cineasta e recentemente lançou o longa "Mulheres Negras Projetos Mundo". O elenco têm a rapper Luana Hanssen, a filósofa Djamila Ribeiro e outras oito mulheres, que contam como é ser mulher negra no Brasil.
11. Priscila F Pascoal
É fotógrafa e videomaker na Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop, que está presente em 15 Estados brasileiros e busca fortalecer ações protagonizadas por mulheres que atuam no Hip Hop. Está com o documentário "Pretas no Hip Hop" presente no Festival Latinidades de Brasília (DF) e no Festival Brasil, África, Caribe Zózimo Bulbul.
Conheça mais de seu trabalho
12. Carol Rodrigues
É cineasta e fundadora do site colaborativo "Mulheres Negras no Audiovisual brasileiro", que promove a inserção de trabalhos de mulheres negras, pardas e indígenas. O projeto surgiu de um coletivo feminista "PrograMaria", que visa o empoderamento nas áreas de tecnologia.
Confira aqui
13. Jessica Queiroz
A cineasta cresceu na periferia de São Paulo, em Ermelino Mattarazo e leva a cultura periférica em sua arte, sobretudo numa vertente da arte tão cara e excludente como é o cinema. Em 2015 lançou o curta "Número e Série", que fala sobre escolas públicas e no mesmo ano, no centenário da escritora e catadora Carolina Maria de Jesus dirigiu "Vidas de Carolina", que traça um paralelo entre Carolina e a vida de mulheres catadoras de resíduos recicláveis, em São Paulo.
14. Sabrina Fidalgo
A cineasta carioca Sabrina Fidalgo é filha do ator, diretor e produtor Ubirajara Fidalgo e da cenógrafa e produtora Alzira Fidalgo, que criaram o Teatro Profissional do Negro (TEPRON), ela já acumula a vivência e o gosto pelas artes do berço e já acumula diversos trabalhos premiados. Ela atuou e dirigiu os curtas "Sonar – Special Report", "Das Gesetz des Stärkeren (A Lei do Mais Forte)", "Black Berlim", "Cinema Mudo", "Personal Vivator e seu trabalho mais recente é o curta "Rainha", que ganhou prêmio de melhor filme pelo júri popular do Festival Internacional de curtas do Rio de Janeiro.
Fotografia
15. Marcela Bonfim
“A Amazônia me fez descobrir a minha negritude”. É assim que a fotógrafa Marcela Bonfim define seu trabalho "(Re) conhecendo a Amazônia Negra". A jauense formada em economia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC -SP) encontrou na fotografia terreno fértil para desvendar sua própria identidade e a paixão por retratar realidades tão distantes, mas ao mesmo tempo tão próximas a sua. Ela capturou imagens de mulheres ribeirinhas e quilombolas da região amazônica e agora está com sua exposição em cartaz no Sesc Rondônia até 19 de agosto. Confira mais aqui.
(Re) conhecendo a Amazônia Negra
16. Helemozão
A soteropolitana se dedica a capturar imagens de seu cotidiano, da periferia sem sangue e violência, do empoderamento da juventude negra, a sensibilidade dos corpos femininos. A jovem de apenas 22 anos queria ser advogada, mas investiu suas economias em uma câmera usada e saiu pelas ruas de Salvador buscando inspiração. Confira seu instagram.
17. Alile Dara Onawale
A jovem fotógrafa baiana ganhou de sua avó uma Kodak C310 de presente, aos 15 anos. Hoje, com 24 e formada em fotografia, reside em São Paulo e fotografa mulheres negras. A ancestralidade está muito presente em seus cliques. Ela foi responsável pelas fotografias "still", de divulgação, do longa "Kbela", de Yasmin Thayná.
Confira seu trabalho aqui.
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