Assisti ao documentário O Sal da Terra, sobre o fotógrafo Sebastião Salgado, em etapas. Não por ser demasiado longo, pois tem pouco menos de duas horas, mas porque é denso, porque as imagens registradas pelas lentes desse fotógrafo mineiro, principalmente nos primeiros dois terços da narrativa, são fortes, difíceis de ser vistas, de realidades difíceis de ser digeridas.
Posso afirmar que, mesmo sabendo de antemão sobre sua existência e sobre seu trabalho, nunca havia realmente me interessado em conhecer mais sobre o ser humano por trás das lentes. E descobri que foi engajado no movimento contra a ditadura militar no Brasil, exilou-se na França, formou-se em economia, descobriu a paixão por fotografia por acaso, que cada um de seus projetos a partir daí foi minuciosamente planejado em parceria com sua esposa, Lélia, e que teve dois filhos – e um deles, Juliano, compartilha a direção do documentário com o incrível Wim Wenders (Paris, Texas; Asas do Desejo; Buena Vista Social Club; Pina).
E mais que um superfotógrafo de imagens registradas em cores, mas publicadas em preto e branco, para mim agora Sebastião Salgado é também um grande contador de histórias. Mas não poderia ser muito diferente, uma vez que para trabalhar em cada um dos seus projetos ele escolheu mergulhar, muitas vezes por anos e longe da família, nas outras realidades que escolheu retratar – como foi nas Américas; na África, registrando conflitos e genocídios; no garimpo de Serra Pelada; em tribos indígenas; em Exôdus, no qual mostrou a história de povos que fogem da guerra e da opressão; e, por último, em Gênesis, que consumiu oito anos de dedicação e mais de trinta viagens por todos os continentes.
Há críticas a Salgado, de que ele tirou proveito da miséria humana, mas ouvir seus relatos emocionados por causa de tanto horror que viu, da dor que sentia, do desejo de mostrar aquilo ao mundo na esperança de contribuir para mudar realidades não deixam dúvida em relação ao seu envolvimento, ao seu choque, à angústia diante de sua impotência. Merecidamente, recebeu o título de fotógrafo social, mas um dia chegou à exaustão.
Em meio à narrativa relacionada a suas experiências fotográficas, há a história de sua família em Aimoré, Minas Gerais, numa fazenda na qual cresceu e que, devastada pelos anos de exploração da terra, virou um descampado ressecado. Nela, criou o Instituto Terra, onde investiu e plantou mais de dois milhões e meio de mudas de árvores, recuperando o verde onde antes havia mata atlântica, atraindo de volta espécies da fauna e vendo renascer riachos há muito desaparecidos. Incrível!
Os relatos são divididos entre o próprio Salgado, Wim Wenders, Juliano, Lélia e o pai de Salgado. E a trilha sonora é sensacional!
Coloque esse documentário em sua lista (tem na Netflix). Vale muito a pena!
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Lançamento: 2015
Recebeu prêmio especial na mostra Un Certain Regard em Cannes 2014
Indicado ao Oscar 2015 na categoria Melhor Documentário
Abertura:26/02/2019, ,às 21h.
Local: Galeria Olho de Águia (CNF 01, Edifício Praiamar, Loja 12 – Taguatinga Norte)
Horário: De terça a sabado - 18h às 01h / Sábado – 18;30h às 01h
Entrada franca.