Gervásio Baptista, a leveza de quem registra a vida salvando sua efemeridade.por Alan Marques

24/01/2019 09:50

 Aos 96 anos, Gervásio Baptista não se intimidou com o ambiente solene do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional ou STF, porque, com a bagagem de quem cobriu a Guerra do Vietnã (1955-75), a Revolução dos Cravos em Portugal (1974) e foi fotógrafo da Presidência da República durante o governo de José Sarney (1985-90), sempre transitou entre togados,  políticos e entre balas com a leveza de quem fotografa a vida mirando a sua efemeridade.

Como tudo começou

O início da carreira desse fotógrafo foi aos 15 anos, quando entrou para o jornal “Estado da Bahia” com uma câmera de chapa de vidro 9×12 e um flash “que colocava fogo em tudo”.

Não tinha nem um ano de casa quando foi pautado para fotografar Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, recebendo a Comenda do Vaqueiro, no interior do Estado.

Um jumento tinha sido todo preparado com arreios coloridos e quatro homens levantaram Chateaubriand no colo para colocá-lo no lombo do bicho. Chatô vetou a publicação da imagem, mas acabou levando o jovem fotógrafo para trabalhar no Rio de Janeiro, na revista “O Cruzeiro”.

No final da década de 50, já na revista “Manchete”, Gervásio cometeu uma gafe quando pediu um cigarro a um médico argentino que estava em Cuba. Era Ernesto Che Guevara. O guerrilheiro soltou um palavrão e disse que cigarro era coisa de norte-americano e aquilo era um autêntico charuto cubano, “verdadeiro fumo de homem”. A conversa acabou entre risos.

Fotos mais polêmicas

Nem sempre a relação com fotografados foi assim, tranquila. Encarregado de cobrir a missa de 30 dias da morte do marido da ex-miss Brasil Marta Rocha, Gervásio descobriu já na igreja que a viúva tinha proibido a entrada da imprensa. Tentou se esgueirar pelo telhado do prédio, mas acabou despencando perto da beldade. Fez uma única foto, tomou um soco do sacristão e foi preso.

O gosto pelo ângulo privilegiado o levou a subir em uma estátua de anjo durante o funeral do presidente Getúlio Vargas. Enquanto fotografava, sentiu uma pessoa puxando seu pé. “Rapaz, você vai cair daí”, advertia o homem. “Qualquer coisa o senhor me pega”, disse Gervásio para Tancredo Neves, na época ministro da Justiça.

Mais de 30 anos depois, o então presidente eleito Tancredo estava internado no Hospital de Base de Brasília. Era necessário mostrar que Tancredo estava bem e tranquilizar o país. Foi Gervásio, amigo do presidente, o nome lembrado para fazer a imagem esperada por todos.

Depois de fazer o trabalho, o fotógrafo pediu a Tancredo para acenar aos jornalistas de plantão, em frente ao hospital. O presidente não quis, mas prometeu que no sábado seguinte, quando recebesse alta, todos poderiam fazer fotos. Esse dia nunca chegou.FONTE:www.bsbmagazine.com.br

 

Gervásio Baptista, sorriso do tamanho do seu legado

 

Não perca

Vale conhecer mais da vida de Gervásio Baptista na exposição Imagem Sem Fronteiras II, na galeria Olho de Águia (CNF 01, Ed. Praiamar, Loja 12 – Taguatinga Norte) das 18 às 00h de terça a sábado.

Alan Marques

Mestre em Comunicação pela UnB/ FAC com MBA em Marketing pela FGV. Formado em Jornalismo pelo UniCeub e em Administração pela UDF. Trabalhou por 20 anos na Folha de São Paulo com passagem pelos jornais O Globo (1992-94) e Jornal de Brasília (1994-97). É professor universitário nas graduações de Jornalismo e de Publicidade no UniCeub e coordenador do curso de Comunicação da Anhanguera. Foi professor de Introdução de Fotografia na UnB e membro do corpo editorial da Revista Campus Repórter/ UnB 14, 15 e 16. É autor de cinco livros sobre jornalismo de imagem e participou do livro OlhaeVê

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