Um Cavalheiro Andarilho por Bruno Gibim.Foto:Ivaldo Cavalcante

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16/10/2017 10:13

 

 

 

Um Cavalheiro Andarilho Parte 3: Viajante Emotivo

 
   Eu sou um viajante, será raro ver mais de um relato meu sobre o mesmo lugar. Talvez eu mencione sobre relatos antigos, mas ver uma continuação de qualquer um será difícil. Minha continuidade está no descontínuo, mas mesmo assim eu encontro harmonia no meu ser, até mesmo nos sentimentos conflitantes.
   A viagem agora me corteja com um local suspeito. Uma pequena praça com poucas árvores quais explicitam o outono pelo cair de folhas aos montes com o Coveiro varrendo-as. Na época ele não era morto e muito menos coveiro. Tão pouco me conhecia. A pequena praça, deserta, tinha uma fonte octogonal que não flui sua água cristalina aos domingos, mas esse domingo ela estava chorando. Ela sabia que era a minha hora de partir. Fui denunciado por uma corrente de ar que limpou os céus da cidade que nunca é menos que nublada. Quando parti, a cidade entardeceu-se e o tempo lá voltou a caminhar.
   O tempo do Coveiro ali também chegou ao seu fim, ele quis vir comigo. Aos prantos ele se contradisse como eu, mas isso tirou dele suas memórias e suas emoções. Ele foi para outro lugar. As árvores imploraram para que eu ficasse, sussurravam os galhos em lamentação. Então eu despedi-me do meu berço e acordei por fim.
   Minha cama era de casal e eu dormia com a solidão, que me dera um bom dia com um beijo daqueles que dizem " tardarei a lhe deixar". Minha companhia no casarão eram o cachorro e o gato que brincavam lá fora.
   O Cavalheiro Andarilho é um viajante emotivo.

 

Um Cavalheiro Andarilho Parte 2: Névoas Esclarecedoras

 
  Um cemitério qual as lápides apareciam à noite apenas.
No crepúsculo daquela cidade sempre aparecia uma névoa densa, assim o segredo das lápides se escondia com êxito. Mas o segredo não era o aparecimento delas à noite, mas sim o sumiço delas pelo dia. Ninguém sabia disso, a não ser o Coveiro. O Coveiro sabia de tudo.
  O cemitério fica aberto todos os dias, o dia inteiro. O Coveiro não dormia, pois se ele dormisse ele sonharia. Se ele sonhar, as lápides de vidro se quebrariam. Todas as lápides daquele cemitério eram de vidro, menos uma. Todas as lápides sumiam pelo dia, menos uma.
  A primeira lápide, a primeira que você enxerga pela abertura dos portões pesados, essa era de pedra e não sumia de dia, só à noite. Era a lápide do Coveiro. Aquele era o cemitério dos vivos. E só o Coveiro sabe desse segredo. Ele e o Cavalheiro Andarilho que passeava pelo cemitério às sextas, eu dedicava o dia inteiro para passear naquele lugar.

 

O Cavalheiro Andarilho é Alguém Eternamente Incompreendido

 
Acho que é com você com quem quero estar no meu último suspiro de vida, nem que seja você que tenha me matado...
Mas foda-se, ninguém vai entender.

 

Um Cavalheiro Andarilho Parte 1: Manhã Inqualquer

 
     Acordo de outra entre várias aventuras nas terras onde sou apenas um vassalo. No momento minhas experiências ocorrerão no mundo (semi) Desperto, salvos os momentos onde me encontrariam quase,se não, em transe, imaginando ou criando uma nova paixão, só para esconder minha natureza estável e feliz de solteiro que sente falta de amar.
     Após tanto hesitar, me levanto do leito de meus pensares e sigo para o banheiro, para lavar o rosto e me barbear após uma breve visita ao meu interior, compenetrando-me ao olhar cigano que me observa do outro lado da ilusão ótica do que seria meu estereótipo, refletido na alma enquadrada no azulejo frio. Sempre que vou visitá-lo, meu interior, está sempre lá, mas nunca o mesmo. A única coisa estacionária dentro de tantas mudanças são apenas as mesmas íris opacas como a chama que arde no inferno e, ao mesmo tempo, azuis como o gelo que queima em meu coração. Ou o que resta dele. São bonitas, quase que recuperam minha sanidade, entretanto não vou adoecer tão facilmente.
     Deixando minha higiene pessoal (por sinal muito saudável.) à parte, coloco uma roupa bacana, preparado para qualquer coisa, mas ao invés de fazer qualquer coisa, acendo o cigarro. Não apenas um cigarro, o primeiro cigarro do dia. E como de costume o cinzeiro da vez é a caixinha da aliança da minha ex-namorada. Ela me amava, claro, mas também tinha 16. Ou não.Sem mais delongas, movimento-me até a rodoviária, caçando um lugar para ir, até lá estava chegando de metrô, a partir de então pegaria um ônibus para onde for. Estou pronto para partir.

 

Isqueiro à primeira vista

 
   No instante que subi no ônibus e vi você sentada no banco do fundo, eu esqueci que tinha pego o ônibus errado. Sentei do seu lado meio sem jeito e logo tu me olhastes, não entendi muito bem mas quem puxou assunto foi você. Achei engraçado quando sem mais nem menos você me puxou junto para fora do ônibus e começou a me beijar na chuva, foi demais. Te carreguei por duas quadras até seu prédio com muito esforço para não ceder aqueles seus beijos no meu pescoço. Não o bastante, quando eu te abracei como despedida naquela tarde fria, você me puxou para o elevador e me fez de cobertor se enrolando em mim.
  Doze longos andares, mas foi o aquecimento para o que vinha em seguida: abriu a porta chutando e me jogando no sofá, disse que faria algo para me esquentar, enquanto eu descansava você foi para cozinha tomar um copo d' água depois de deixar a banheira ferver. Suas curvas por baixo daquela toalha me guiaram num banho de espumas daqueles que jamais esqueceremos o que aconteceu em baixo daquela tensão superficial de beijos e amassos.
  Na cama foram recitados poemas depois que você permitiu folga para minha língua, heh. eram vinte listras no cigarro que te separavam de um bom sono, mas na décima nona tivemos a coragem de dizer nossos nomes.  Eles combinavam tanto quanto nosso encontro nada planejado. 

  Espontâneo amor, à primeira vista. Nesta noite não ousamos sonhar com qualquer coisa que não seja nosso futuro entrelaçado como uma cinta de couro firme algemando suas mãos culpadas de roubar meu coração. Firme como o jeito que minhas mãos estarão no momento que eu roubar de ti o que tenho por direito. 

 

Ninguém, É Eterno

 
     Quando encruzilhadas se despertam dentro do espectro oscilante do desespero, há sempre o medo de deixar o caminho já conhecido.  Quando a parede se fecha atrás de você, quem você foi torna-se um beco sem saída. O improviso que é trilhar um novo “eu” com uma estrada feita de tijolos removidos do altar do eterno pretérito, que agora deixam lacunas na parede onde são preenchidas por dúvidas sobre o seu antigo pensar, vagueia nas sombras deixadas pelo alumbre da falsa sensação de ideias inatas.
     Os jogos de guerra e paz que se travam entre o meu ser e o meu ínfimo estandarte estampado pelo clichê caricato do rapaz sonhador, exuberam os choques entre feixes vermelhos e violetas que se amarram em um laço, unindo o pensar e o sentir em conforme que nenhum dos dois exércitos apelem para a abertura do receptáculo do Caos e Ordem. Ao mesmo tempo em que ambos reinos clamam pela quebra do Statu Quo de aprimoramento de peças falhas da máquina do ser.
     O que se sobra são sombras de caminhos adversos e controversos, onde primo modosemeia o carinho e o amor pela espera por alguém indeterminado, enquanto semita secundopega o próximo trem para a fortaleza fossílica onde reside a cátedra sentimental, que prega a inconquista dos fragmentos cardíacos. Que caminho devo seguir, se nem Icarus sobreviveu quando voou muito perto de Rá?

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