Artigo do nosso articulista de cinema.
O cinema (do grego: κίνημα - kinema "movimento"), invenção datada de 1895, mas com antecedentes em remotas eras, é uma espécie da nave que proporciona uma viagem no tempo. Seja se tratando da época em que determinado filme foi realizado; de filmes de época que procuram reproduzir o passado ou intuir o futuro; quanto de filmes que mostram como vivem atualmente as gentes do Brasil, América latina e do Norte, Europa, Rússia, Ásia, Índia, Oriente Médio, África e Austrália. Como expectadores de obras cinematográficas, somos tomados pelo poder da imagem. Há uma interação quase telepática por conta do drama, da alteridade e do estranho complementar que é o outro, raro e caro (se me dedico à sua história).
Essa nave, o cinema, tem o poder de nos sensibilizar ou mesmo adequar aos mais diversos comportamentos (ilegítimos quando desconhecidos, legítimos após assistirmos o filme). A fotografia também tem esse poder. Antes dela existe algo, e depois existe algo. Deixando muito para a imaginação. Com o cinema, entanto, esse antes e esse depois têm uma continuidade que nos permite vislumbrar o drama em movimento, sons, expressões e impressões fortes, por envolverem pelos menos dois sentidos: visão e audição. Os jogos eletrônicos promovem mais um sentido, a cinestesia, e podem também ser considerados “filmes”, onde cada expectador interage diretamente na construção da história. Com o cinema, porém, temos a oportunidade de deixar a coisa toda acontecer em nível imaginário e, apesar de aparentemente passivo, com uma efervescência relacional, aplicável ao dia a dia. Após sua análise, continuamos realizando o filme. Buscando e, muitas vezes encontrando, novas soluções, apagando ou mudando imagens, re-interpretando a história e transpassando narrativas.
Notadamente muitas pessoas sofrem com as imagens. Geralmente o péssimo uso delas leva a situações de sofrimento: fobias, depressão, agressividade, suicídio, assassinato. O estudo da mente, pela psicologia avançada, “magia”, e outras áreas de estudo psíquico, mostram que controlando as imagens, controla-se a mente, e assim a vida. Pode parecer fantasioso, remeter à magia, mas provavelmente é disso que se trata. Vemos que o anagrama de magia é imagem, e que esta não é em si a verdade, mas um símbolo, um ícone para algo potencialmente mais complexo (existindo ou não). Por exemplo: uma pessoa imagina que sufoca. Isso tem grande probabilidade de ocorrer, por ser psicossomático. Com a persistência da imaginação essa pessoa pode realmente morrer sufocada. Agora, se ela tem um instrumento de manipulação das imagens (a mente?) com poder de alterar ou mesmo apagar essa imagem, consequentemente deixará de sufocar. Ver um filme é mais que ver um filme. É viajar com outros sentidos, para outros mundos. A nave cinema é um transporte para si mesmo, através do mundo, do outro, de sua biologia, cultura, geografia, poética, política etc. E através dessa viagem no tempo, desde que haja intenção e busca por sentido, podemos encontrar elementos para curar e mudar a vida, já que a pulsação do que vemos na tela atinge diretamente a psique. E, diferentemente dos jogos, podemos assistir a um filme inteiro acessando a região ALFA da mente (próxima à letargia, quando retemos um maior número de informações), sem precisar de “esforço” e desgaste, para chegar ao desfecho. E após o desfecho, pela autopoiese, continuar adquirindo níveis (de compreensão? de iluminação?) aplicáveis a si mesmos e ao convívio.Fonte:http://www.culturaalternativa.com.br/
Walter Sarça
Cineasta, Produtor Cultural e Escritor