“O Silêncio” de Usha Velasco é tumultuado: ela está no presente, mas vê
simultaneamente o passado. Tempos diferentes coexistem nas suas sobreposições de
imagens e ao falar dessa oscilação, a noção de realidade e representação também
vacila.
Marcelo Feijó, em seu ensaio “Imagens com imagens dentro ou São imagens do
mundo minha nêga!” também recorre a imagens sobrepostas, mas o esfacelamento do
presente se dá de maneira mais impessoal. Nas suas combinações de imagens, o
olhar que a fotografia representa é também informado por algo mais do que o
momento presente e isso ocorre porque o agora participa de um acervo de imagens
coletivamente compartilhadas.
Almir Israel também recusa a imagem única. A série de retratos da sua filha tem como
título “Clarinhas”. A clareza fotográfica das imagens em preto e branco permite que se
vejam os poros e os fios de cabelo, mas a rigorosa nitidez engendra mistérios. A
Clarinha é uma só, e ao mesmo tempo também são várias: a maioria delas habita um
território intrigante, como tudo que foge da normalidade. O rosto está sempre
acompanhado da mão: os traços faciais que definem uma pessoa são acompanhados
nesse ensaio pelo apelo ao tato. Os gestos são inabituais. A combinação de imagens
vai construindo a ideia de que a personagem se define menos pela aparência do que
pelo fato de sentir.
Em “O Turista” Rinaldo Morelli retrata um boneco com a câmera pendurada no
pescoço que vale por todos os turistas subentendidos, incluindo o próprio fotógrafo
que lá esteve. Um boneco turista posa em frente a uma igreja, uma duna, ou
monumentos diversos facilmente reconhecidos. Rinaldo Morelli, que sempre gostou
das abstrações plásticas, buscou nesse ensaio um grau diferente de abstração. Não
se trata mais de registrar apenas um cenário e sim uma prática.
A fotografia de Rubens Rebouças, em seu ensaio “Por um décimo”, também abstraiu-
se do espaço físico. Rinaldo Morelli abstrai para revelar o aspecto convencional da
produção de imagens; Rubens abstrai para inventar as passagens do tempo. Ambos
evitaram o mero registro de formas abstratas praticado nas suas fotografias iniciais;
um e outro utilizam a câmera para re-apresentar o espaço de uma forma mais
elaborada.
Susana Dobal escolheu a estrada como o cenário para suas imagens no ensaio “A
Caminhoda serra da Capivara”. Nesse espaço transitório no coração do Brasil,
partindo de Brasíliapara o sul do Piauí passando pela Bahia e por Goiás, ela capta
cenários e personagens fugazes que falam de uma realidade local. As imagens se
aproximam da veracidade da fotografia documental, mas as palavras adicionadas
evitam-na.
Ladrões de Alma é o primeiro coletivo fotográfico brasileiro, o grupo fez história em
Brasília desde 1988, quando lançaram uma pioneira coleção de cartões postais. De lá
para cá, levaram a público à dezenas de exposições. No cinquentenário da capital,
uma delas (Perdidos no Espaço, de 1991) foi apontada como uma das 50 obras de
artes visuais que marcaram a cidade.
As notas e comentários publicados durante a trajetória do grupo traduzem sua
filosofia de trabalho e sua construção como um coletivo de fotógrafos.
QUEM SOMOS
“Os Ladrões de Alma atuam em Brasília desde 1988. Eles não seguem uma única
linha, mas, individualmente ou em grupo, têm exposto trabalhos onde evitam a
tradição documental da fotografia e exploram opções mais experimentais.”
(Fotosite, nov/2005)
SOBRE A ESTÉTICA
“Não existe uma proposta estética em comum, no estilo dos fotoclubes dos anos 40.
Se há algo em comum no grupo é a proposta de uma abordagem conceitual da
linguagem fotográfica. Ou seja: fazer fotografia pensando a fotografia.”
(Jornal de Brasília, set/1990)
DIÁLOGO COM O MUNDO
“O que leva as pessoas a se envolverem, tão apaixonadamente, com suas formas
particulares de expressão? (...) Talvez a necessidade de estabelecer um diálogo com
o mundo seja mais intensa e nossos processos expressivos se constituam em rotas
para o auto-conhecimento.”
(Luis Humberto, sobre a exposição "Perdidos no Espaço", 1991)
PROCESSO CRIATIVO
,Ao se reunirem, os Ladrões romperam a barreira do trabalho solitário. O artista muitas
vezes se ressente do isolamento, deseja o diálogo, a comunicação com o outro, a fim
de melhor compreender e concretizar o seu processo criativo, que resultará na obra."
(Joaquim Paiva)
MOSAICO DE OLHARES
“Pela fotografia, olhamos a vida e a reconstruímos por nossos modos peculiares de
vê-la. Produzimos um mosaico de olhares que retêm o tempo. Acumulamos um acervo
de memórias intermediadas pela luz. Falamos, à nossa moda, de instantes
assustadoramente fugazes. (...) Os Ladrões de Alma, que de ladrões não têm nada,
são uma espécie de Robin Hood, roubam pequenas porções de tempo e nos
presenteiam com elas. Diminuem nossa pobreza visual dividindo conosco a alegria de
suas descobertas.”
(Luis Humberto)
Exposição Ladrões de Alma na Galeria Olho de Águia.
A exposição Ladrões de Alma 25 Anos é uma das atrações do Mês da Fotografia 2016. Como
parte das comemorações do Dia Internacional da Fotografia (19 de agosto), a galeria Olho de
Águia, em Taguatinga, mostrará ensaios de seis artistas: Almir Israel, Marcelo Feijó, Rinaldo
Morelli, Rubens Rebouças, Susana Dobal e Usha Velasco.
O projeto é uma realização do grupo Ladrões de Alma e da Casa da Luz Vermelha, a primeira
galeria de arte especializada em fotografia na região Centro-Oeste. Com patrocínio do Fundo
de Apoio à Cultura (FAC), a exposição itinerou por Brasília, Ceilândia, Varjão, Vila Telebrasília,
Itapoã e Estrutural.
Primeiro coletivo fotográfico brasileiro, os Ladrões de Alma fizeram história em Brasília desde
1988, quando lançaram uma pioneira coleção de cartões postais. De lá para cá, levaram a
público dezenas de exposições. No cinquentenário da capital, uma delas (Perdidos no Espaço,
de 1991) foi apontada como uma das 50 obras de artes visuais que marcaram a cidade.
Para comemorar seus 25 anos de história, os Ladrões de Alma também lançaram um livro.
Com 228 páginas, a publicação traz uma extensa coletânea do trabalho de 24 artistas que já
participaram do coletivo. Ao todo, são 317 obras que mostram uma produção muito
diversificada – fotos analógicas em preto e branco, colagens artesanais em laboratório,
dípticos, trípticos, fotografias sobre porcelana e sobre tecido. O livro, também patrocinado pelo
FAC, estará à venda na galeria Olho de Águia por apenas R$ 30,00.
A Galeria Olho de Águia é um tradicional espaço de divulgação da arte e fotografia de
Brasília, um espaço pautado pela estética dos pubs ingleses, decorado com referências
principalmente sobre o rock e a fotografia. Faz parte da galeria o Bar Faixa de Gaza, onde o
visitante pode experimentar boas cervejas e encontrar com os amigos.
Serviço
Exposição Ladrões de Alma 25 Anos
Galeria Olho de Águia – Ed. Praiamar, Setor F Norte, QNF 1 – Taguatinga Norte
Abertura dia 6 de agosto às 20 horas
Visitação até 20 de agosto de 2016