DE DIÓGENES, O CÍNICO, A FÁBIO
*Gilberto Alves
Na Grécia, por volta de 413 a 323 a.C, viveu Diógenes, o Cínico ou Cão, como alguns também costumavam chamá-lo, devido à relação de Diógenes com esses animais que, segundo ele, ao contrário dos humanos que enganam e são enganados uns pelos outros e vivem de forma artificial, os cães vivem de forma natural e reagem com honestidade frente à verdade, aprendendo instintivamente quem é amigo e quem é inimigo.
Diógenes acredita-se, por escolha própria, vivia perambulando pelas ruas, tendo um barril como “casa”, abrigando-se nos espaços públicos e alimentando-se do que conseguia recolher. Essa forma de vida simbolizava seu desapego aos bens materiais, buscando uma autossuficiência que, segundo ele, deixava-o livre para criticar as instituições e valores sociais de sua época, que ele via como uma sociedade corrupta.
São inúmeras as anedotas sobre Diógenes, que levou ao extremo sua forma cínica de combater o prazer, o desejo e a luxúria, que segundo ele eram impedimento para a virtude, que deveria ser exercida pela ação e não pela teoria. Diógenes é um dos expoentes da Filosofia Cínica, que muitos enxergam como a fonte do anarquismo contemporâneo.
Hoje, passados mais de 2.000 mil anos, o cineasta Ivaldo Cavalcante surpreende-nos com o belíssimo documentário “Meu Nome é Fábio”, que mostra um garoto, Fábio, “residente ” em um contêiner de lixo no centro de Taguatinga-DF, abrigando-se nos espaços públicos e alimentando-se do que consegue recolher no lixo.
Ao contrário de Diógenes, Fábio não é filósofo, não é anarquista, não faz crítica à sociedade e seus supostos valores. Fábio é invisível, a exemplo de milhares de outros em situação igual. Pessoas que só ganham visibilidade quando são protagonistas de alguma tragédia urbana, invariavelmente explorada de forma sensacionalista e superficial pela chamada “grande mídia”, sempre ávida pela exploração de mais uma tragédia que, invariavelmente, é travestida de notícia.
Contrapondo Diógenes e Fábio, somos levados a refletir acerca da inquietante indagação de Reigota: “Chegamos até aqui. Alguém poderia dizer para onde vamos? ”.
*Gilberto Alves é policial civil, graduado em Filosofia.
Referências:http://pt.wikipedia.org/wiki/Di%C3%B3genes_de_Sinope
Das lentes de Ivaldo Cavalcante, o documentário “O meu nome é Fábio” Por KEYANE DIAS
A gente sempre encontra madrinhas e padrinhos na caminhada da vida. Pessoas cuidadoras que, de alguma forma, se tornam referência em algum fazer nosso. Ainda no início da faculdade de Jornalismo, quando precisei escrever a minha primeira matéria como estudante, conheci o fotojornalista Ivaldo Cavalcante. Naquele dia, em um evento cultural na Praça da CNF (a pauta do dia!), recebi ajudas muito precisas de Ivaldo, que percebeu na hora minha insegurança de caloura. Reconheci naquele momento a sua benção de padrinho nas veredas que eu percorreria na área da comunicação. E foram muitos os apoios que recebi.
Ivaldo Cavalcante é uma das figuras históricas da cidade de Taguatinga. Também conhecido como Kabeça, nasceu em Crateús (CE), Fortaleza, em 1956. Fotografa profissionalmente desde 1980. Trabalhou para os principais jornais do DF, ganhou vários prêmios e fez exposições no Brasil e no exterior, nunca deixando Taguatinga como a cidade que escolheu para viver. Indo além das páginas de jornal, Ivaldo Cavalcante registrou e registra cenas emblemáticas do cenário político e urbano do DF, mostrando as desigualdades sociais escancaradas aqui, na capital do país. Mas um dos trabalhos que mais gosto é o livro Taguatinga, duas décadas de cultura, que contém registros da efervescência cultural que Taguatinga viveu nas décadas de 70 e 80, anos que foram escola para muitos artistas e militantes da cidade.
Um dos trabalhos recentes de Ivaldo é o documentário O meu nome é Fábio. Com montagem de Karina Aguiar e direção e imagens de Ivaldo, o vídeo narra, em um formato ficcão-documental, a história de um morador de rua de Taguatinga, viciado em crack. O filme me toca mesmo porque eu sempre via o “Fábio” aqui pelas bandas de Taguatinga Sul. Era sempre como está ali no vídeo: quietinho, olhar distante e ao mesmo tempo tranquilo, parecendo sempre buscar algo longe ou, quem sabe, dentro de si. O documentário recebeu mensão honrosa e levou o 2º lugar no Festival Taguatinga de Cinema 2014.
Outros trabalhos:
Brasília, 25 anos de fotojornalismo (livro)
Perfil no site OlharesProjeto Imagem sem FronteirasSite Jornal Olho de Águia
Galeria Olho e ÁguiaHá mais de 10 anos, Ivaldo cultiva em uma loja da famosa Praça da CNF a Galeria Olho de Águia. Criada em 2002, foi idealizada para abrigar o acervo fotográfico de anos de trabalho. Mas, pouco a pouco, a galeria tomou forma e se tornou um local de trocas de ideias e de experiências sobre o mundo da fotografia, da música, do cinema e da arte em geral. Dividido entre a Galeria Olho de Águia e o Bar Faixa de Gaza, o espaço abriga vários eventos e atividades culturais, como exposições, mostras de filmes, feiras fotográficas e pocket shows. Em 2012, foi sede do projeto Imagem sem Fronteiras, que trouxe para Taguatinga exposições com fotojornalistas internacionais.
Por falar nisso, em fevereiro de 2010 escrevi uma matéria sobre a Galeria Olho de Águia para a extinta revista virtual de skate chamada Dois Tempo. Tão bom rever isso. Segue pra ficar registrado:
Um verdadeiro reduto cultural é cultivado há oito anos na praça da CNF, em Taguatinga (DF). Batizado como Galeria Olho de Águia, o espaço carrega traços da vida e juventude de seu criador, o fotógrafo Ivaldo Cavalcante, caminhante voraz da noite underground nas décadas de 70 e 80. Num clima rock’n roll, que lembra bem a estética beatnik de Jack Kerouac, a galeria vai tomando forma e se tornando um tesouro entre as ruas de Taguá.
O projeto de Ivaldo ao criar a galeria era abrigar o acervo de seus 30 anos de fotojornalismo, mas não dava para ser simples. As inúmeras ideias que saltam da sua mente, pouco a pouco, se firmaram no local. “Fui abrindo as asas, como uma águia”, afirma Ivaldo ao falar sobre seu cuidado ao montar o espaço. Parte do seu acervo fotográfico está registrada no livro ‘Taguatinga, duas décadas de cultura’, lançado na própria galeria, em 2003.
O espaço, dividido entre a Galeria e o Bar Faixa de Gaza, ainda não abriu suas portas regularmente, mas já abrigou vários eventos e atividades culturais, como exposições, mostras de filmes, feirão fotográfico e pocket shows. Apreciador da sétima arte, o fotógrafo viu seu o bar ser cenário do curta ‘Brasília (Título Provisório)’, filme ganhador do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro de 2008, pelo júri popular. No local, revistas Rolling Stone, vinis, livros de fotografia, postêres de clássicos do cinema e objetos antigos, como uma saudosa jukebox dos anos 70, completam a ambientação.
Ivaldo é fotógrafo no Caderno Brasília do jornal mineiro Hoje em Dia, mas não vê a hora de se aposentar. “Faltam só três anos. Quando chegar a hora vou realizar todos os projetos que tenho em mente”, revela. E não são poucos. Apaixonado por Taguatinga, o fotógrafo pretende movimentar a cultura da cidade: “Quando a galeria abrir vou montar uma programação diferente a cada dia.” Seus planos incluem workshop de poesia, exposições fotográficas, mostras de filmes e oficinas, voltadas principalmente para os jovens. Entre eles estão os meninos de rua, personagens centrais do seu trabalho como fotojornalista.
Mas, enquanto a aposentadoria não chega, a galeria vai se caracterizando para receber seu público, tendo como patronos duas lendas do rock’n roll mundial: Jimi Hendrix e Jimmy Page, guitarrista do Led Zepellin. Ao fundo da galeria é estampada com orgulho a foto de Page segurando um dos livros de Ivaldo chamado Brasília, 25 anos de fotojornalismo. Hoje, o fotógrafo é membro da Action for Brazil’s Children, ong criada por Jimmy e sua esposa, Jimena Page.
Se tudo prosseguir como planejado, em março, todo o espaço da Galeria Olho de Águia estará aberto ao público. É bom ficar ligado, cada atração perdida por lá será motivo de arrependimento.
Ivaldo é cearense e mora em Taguatinga desde os 4 anos. Já ganhou vários prêmios internacionais e já teve seus trabalhos fotográficos expostos por galerias pelo mundo à fora, como Miami e Argentina.Fonte:https://alemdasparedes.wordpress.com
.