A quantidade total de mortos e feridos em um dia de conflito não nos mostra os instantes dramáticos de uma guerra, nos quais cada movimento pode determinar a vida ou a morte de um combatente. Com frequência, o fotojornalismo consegue testemunhar de perto essas histórias, exibindo traços humanos, que os números são incapazes de revelar. Aqui apresentamos um desses relatos, reportado pelo fotógrafo sérvio Goran Tomasevic, um dos mais importantes correspondentes em zonas de conflito. A série venceu o primeiro prêmio na categoria “Spot News Stories” do World Press Photo 2014. As imagens mostram integrantes do Exército Livre da Síria – oposição militar ao governo – que se preparam para atacar um posto do exército sírio, nos subúrbios de Damasco, no momento em que um dos rebeldes é atingido por tiros.
Ferido, o rebelde é carregado do local por seus companheiros. “Nesses conflitos é possível ver combatentes inimigos que estão a 5 metros um do outro”, conta o fotógrafo em depoimento a sua agência de notícias, da qual é atualmente fotógrafo-chefe de coberturas no leste da África.
“Quando um combate começa, para mim não há volta. Se um dia vejo que não estou fazendo o bastante, vou parar. Não posso trair essas pessoas e deixar de registrar esses momentos. Esse é o meu trabalho”, explica Tomasevic.
“A maior parte do tempo estou pensando nas imagens e na minha segurança. Se estou com colegas, tento ajudar para que eles também se mantenham a salvo. Estou tentando minimizar os riscos o máximo que posso. Acredito que está tudo nas mãos de Deus, rezo regularmente”, revela.
Na reportagem realizada em Damasco, os rebeldes, depois de retirarem o companheiro que foi atingido, voltam a atacar, protegidos por um muro. Eles, no entanto, sofrem o ataque de mísseis e de um tanque do exército sírio. O muro explode durante a investida. Em seguida, os rebeldes descobrem que o companheiro socorrido anteriormente havia morrido em decorrência dos ferimentos.
“Cubro guerras há mais de 20 anos. Não vejo muitas diferenças, especialmente em guerras urbanas. Elas me lembram a guerra dos Balcãs. Ao mesmo tempo, não acredito que haja muita diferença em relação a II Guerra Mundial”, analisa o fotógrafo. “Sei que fiz algumas imagens que serão lembradas. Mas não penso a respeito. Não sei o que vai mudar ou não. Mas espero que algo mude ao mostrar a brutalidade em alguns lugares, como na Síria. Talvez algumas pessoas pensem um pouco mais ou façam esforços para terminar essa guerra”, completa.
Nascido em Belgrado, Sérvia, e vivendo atualmente no Quênia, Goran Tomasevic começou sua carreira cobrindo para um jornal local as guerras que se seguiram à dissolução da Iugoslávia na década de 1990. Passou a integrar a equipe de fotógrafos da Reuters em 1996. Cobriu conflitos em países como Iraque, Afeganistão e Líbia. Seu trabalho inclui também reportagens na África – Sudão do Sul, Moçambique, República Democrática do Congo, Nigéria e Somália – e coberturas esportivas dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo. Durante os três meses de bombardeios da OTAN na Sérvia, em 1999, Tomasevic era o único fotógrafo trabalhando para a imprensa estrangeira que permaneceu em Kosovo ao longo de todo o conflito. Em 2002, mudou-se para Jerusalém e cobriu a segunda Intifada palestina. Em 2003, suas fotografias da derrubada da estátua de Saddam Hussein, no Iraque, durante a invasão norte-americana, se tornaram imagens icônicas. Tomasevic cobriu também a Primavera Árabe e os recentes conflitos na Síria, nas cidades de Aleppo e Damasco.Fonte:http://foto.espm.br/