Ela é responsável por um dos últimos e mais cheios de significado cliques de John Lennon, tirado no mesmo dia do assassinato. É de sua autoria, também, a polêmica imagem de Demi Moore, nua e grávida, que ilustrou a capa de uma das mais icônicas edições da Vanity Fair. Quando excursionou com os Rolling Stones, registrou as mais junkies nuances de Keith Richards e, décadas mais tarde, voltou a fotografar o astro com a mesma intimidade, dessa vez para a publicidade de uma famosa marca de bolsas. Ainda que Annie Leiboviz seja um nome bastante conhecido, como se fotografia de celebridades tenha a alçado ao status de celebridade (o que acontece com diversos profissionais contemporâneos da área), é provável que exista em nosso imaginário bem mais fotos de seu repertório do que reconhecemos. Uma das crias do fotojornalismo da Rolling Stone, onde trabalhou no auge dos movimentos de contracultura que floresceram nos anos 1960, Annie possui uma carreira de mais de 40 anos que, de acordo com a própria, confunde-se com sua vida pessoal.
Nascida Anna-Lou Leibovitz em 1949, em Waterbury, Connecticut, filha de um oficial da aeronáutica e de uma professora de dança moderna, Leibovitz estudou no Instituto de Artes de São Francisco, onde descobriu seu amor por fotografia. Após viver brevemente em um kibbutz israelense, retornou aos Estados Unidos nos anos 1970 e se candidatou a uma vaga na Rolling Stone. Com um portfólio que impressionou o editor Jann Wenner, foi imediatamente contratada. Em dois anos, tornou-se a editora chefe de fotografia, cargo que manteve por dez. Entre as coberturas que fez pela revista, uma das mais célebres foi a turnê dos Rolling Stones de 1975.
Na Rolling Stone, Leibovitz desenvolveu algumas das técnicas que se tornaram sua marca registrada, como o uso constante e eficiente de cores primárias e poses surpreendentes. Muitas das capas da revista hoje consideradas itens de colecionador são de sua autoria, entre elas a de John Lennon nu, curvado sobre sua Yoko Ono, tirada horas antes de sua morte. Um de seus mais subjetivos diferenciais, aliás, era justamente a colaboração existente entre ela e seus assuntos. Com o passar do tempo, transformou em técnica o fato de que não registrava em imagens apenas os personagens, mas também o ambiente em que trabalhavam e viviam, captando com discrição quadros de seu cotidiano. Outra característica de seu método que ajudou a torná-la consagrada é construir as imagens reunindo referências de diferentes elementos, o que o professor de composição do Centro de Fotografia da ESPM-Sul Luiz Barth chama de “direção de cena”. Essa união de imagens de várias procedências em uma só é feita principalmente em seus cliques publicitários, mas também foi utilizada em alguns dos retratos de família que assina. São suas as imagens oficiais de diversos ícones políticos pop, como a Família Real Britânica e o casal Michele e Barack Obama. Sobre o clichê de captar a alma dos assuntos em suas fotografias, responde que, certas vezes, considera a superfície interessante o suficiente, não sendo sequer possível reunir ambos, superfície e alma, o tempo todo.
Em 1983, Leibovitz começou a trabalhar na Vanity Fair, onde se encontra até hoje. Lá, seus retratos foram de presidentes a ídolos adolescentes, muito deles controversos, como a imagem de Whoopi Goldberg submersa em uma banheira de leite. Na mesma década em que começou na publicação, dedicou-se mais intensamente à publicidade, colecionando uma série de campanhas famosas. Em 1991, publicou o best seller Photographs: Annie Leibovitz 1970 -1990.
Para muitos, Annie é um belo exemplo de fotógrafa cuja vida se confunde com o registro de sua máquina. Nas cenas iniciais do documentário Life Through a Lens (2006), ao volante de um carro em movimento, Annie interroga: “O que é a vida de um fotógrafo senão uma vida através das lentes?”. O filme foi realizado para acompanhar a exposição internacional “Annie Leibovitz: A Photographer’s Life (1990-2005)”, patrocinada pela American Express.