Lan?amento do livro "Artesanato de perguntas", de Carla Andrade.Dia 22 de outubro A partir das 19h No Sebinho Cultural, SCLN 406, bl. C, lj. 44

09/10/2013 18:46

 

 
Lançamento do livro Artesanato de perguntas, de Carla Andrade

 

A poeta e jornalista Carla Andrade, em sua jornada de fazer versos, lança – em 22 de outubro, a partir das 19h, no Sebinho Cultural – o livro Artesanato de perguntas, obra costurada, imaginada, sonhada, desenhada, vivida nos últimos cinco anos. O lançamento marca o final de uma trajetória iniciada logo após a edição de seu primeiro trabalho,Conjugação de pingos de chuva, de 2007.

Mineira de Belo Horizonte, Carla já pode se dizer uma mineiro-brasiliense, pois há mais de uma década vive no Planalto Central, sempre atuando na área de formação, Jornalismo, e se alimentando diariamente de palavras poéticas. Ler seus versos é mergulhar em um mundo paralelo de imagens, cores, sabores, aromas, lembranças, sonhos, desesperanças, saudades, fantasia, amores, erotismo e por aí pelo infinito. É submergir em um verdadeiro artesanato de perguntas. Afinal, para que respostas?

“Sentirás que aos poucos a poesia de Carla Andrade vai penetrando nos teus olhos e te lendo”, escreve o poeta Nicolas Behr na orelha do livro. No “Prefácio”, o também poeta Alberto Bresciani não fala mais que a verdade ao considerar que os “Novos poemas de Carla Andrade recusam a monotonia e a estagnação,[afinal]Carla tem o ‘andar curioso/ de quem não se acostuma mais a olhar sem ver’ (do poema Vietnã)”. 

E seu olhar vai longe dentro de si, do outro, do espaço ao redor, passa pelo Vietnã, Argentina, Itália, Tailândia... e volta para seu próprio interior. Inquieta, se não pode viajar pelo tempo e pelo espaço, Carla viaja nos vocábulos, nos sentimentos, nos detalhes ocultos àqueles que não querem ver. Questiona o cotidiano da solidão entre pessoas, abre as vísceras de uma contemporaneidade em que a imaginação, o diálogo, a contemplação, a simplicidade vêm sendo tragadas pelo abismo de uma sociedade cada vez mais desintegrada, apartada da essência humana.

Para completar sua poesia de sentir, de comer, de degustar, de nos ler, ilustrações da artista gráfica Marina Soares, materializando imagens em traços delicados, tão poéticos quanto as linhas melódicas (ou não) de Carla Andrade, que não escreve para ser compreendida, mas para fazer viajar – mesmo que se esteja quieto em um apartamento qualquer das Asas, ou em qualquer das cidades do Distrito Federal, de Minas, do Brasil, do mundo ou em nós.

Artesanato de Perguntas recebeu recursos do Fundo da Arte e da Cultura (FAC), da Secretaria de Estado da Cultura do Distrito Federal.

O quê?

Lançamento do livro Artesanato de perguntas, de Carla Andrade

Quando?

Dia 22 de outubro

A que horas?

A partir das 19h

Onde?

No Sebinho Cultural, SCLN 406, bl. C, lj. 44

 

Falar com quem?

Ateliê da Palavra

Ana Vilela – 61 8182 4555

Carla Andrade – 61 9634 3966

 

Uma degustação de Artesanato de perguntas

 

Antes do chuveiro

 

Artesãs são minhas mãos

na cama no espelho seu corpo.

 

Meus dedos, teares febris

a fiar a incógnita do seu gozo.

 

Minha boca vapor

de um trem sem destino.

Afasto meus dentes

como persianas abertas

para todo o sol entrar.

 

Concentro o que gruda

e molha na minha língua

ávida pelo seus poros

encravados 

de indulgência.

 

Sou toda parábola para

folhear páginas

de um livro pagão.

O suor do cio.

 

Espasmos rebelados.

Trêmula,

terei que reinventar o chão...

 

Artesanato de perguntas

 

A colonização dos maribondos

nos meus pensamentos

começou em sânscrito.

 

Meditação das palavras.

Um mantra de curiosidade de luz

arregalava meus olhos répteis de criança.

 

Às vezes, levava uma ferroada da ignorância.

Mas passava logo, com sopro em margaridas.

A infância cuidou da urbanização das ideias.

 

Conjunções interrogativas fizeram

prédios no horizonte,

mas os adultos não entendiam

a essência das janelas.

 

Depois, a rebeldia dos porquês escravizados.

O desejo devorava séculos sem respostas

em pés religiosos atolados.

 

A independência da colônia veio depois

de um jejum de palavras.

 

Não quis mais saber o porquê do universo

e da minha travessia cambaleante.

 

Como um coral no fundo do mar

deixei que peixes me acolhessem

e segui o movimento das algas.

 

 

Cidade

 

O tempo

e suas longas tranças

debruçadas em varandas com

vista para os olhos da cidade.

 

A cidade com seus sentimentos

enclausurados

em caixas de concreto,

pés de aço,

jardins de cimento,

estátuas mijadas.

 

Você tem que ser híbrido,

até seu silêncio deve ser civilizado.

Deixe o que é visceral para

a fotossíntese das plantas.

O que é magistral na sua loucura

para a metamorfose das borboletas.

 

Nada de mudanças repentinas

enquanto a cidade e seu relógio analógico

decidem seu destino.

 

Ande devagar, não olhe para os pássaros.

Quando você assumir uma cor cinzenta

e tiver a idade do ralo,

do bueiro,

a cidade respirará o

o resto de sua alma.

 

Vão te chamar de homem,

seus músculos tensos

serão condecorados,

até que você não tenha nem

mais o consolo da beleza

do abismo da tristeza.

 

Você ficará só com seus olhos de boneca.

Sentindo em suas feridas o focinho da cidade.

O tempo irá desfazer suas, nossas tranças.

 
 

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