Data é comemorada em meio a temores de que o espaço onde a entidade funcina venha a ser tomado pela Administração Regional de Taguatinga para projetos diferentes. Há oito anos, a ATL foi tombada como patrimônio cultural do DF e reivindica a garantia da permanência em sua sede.
Por Maria Félix Fontele
Neste 9 de abril de 2021, a Academia Taguatinguense de Letras (ATL) comemora 35 anos de fundação e oito de tombamento como Patrimônio Cultural, Material e Imaterial do DF, reconhecida pelo poder público – Governo do DF e Câmara Legislativa do DF. As festividades têm caráter reivindicatório, uma vez que a instituição sempre corre o risco de perder a sua sede, localizada, há 12 anos, no Espaço Cultural Teatro da Praça, de Taguatinga, diante de uma necessidade de ceder o local para projetos do Governo do Distrito Federal, mesmo sendo tombada.
O presidente da ATL, o escritor Gustavo Dourado, lembra que com o tombamento, assegurado pela Lei 5159 de 2013, regulamentada pelo decreto 35.549, de 18 de junho de 2014, a entidade ficou consolidada no Complexo Cultural EIT. “Foi uma grande conquista para a academia, única tombada no Centro-Oeste e uma das poucas no Brasil a ser reconhecida e a carregar importante título”, observa. Segundo ele, mesmo assim, a instituição tem sido alvo constante de ameaças de perder a sua sede.
Dourado destaca que os acadêmicos (titulares, honorários, colaboradores e correspondentes) receberam diversas Moções de Louvor da Câmara Legislativa do DF e de outras instituições pelo trabalho em prol da cultura. Em 2017, a ATL lançou a sua primeira antologia, com a participação de mais de cem escritores do DF, e distribuição gratuita em cerca de 200 escolas da rede pública. Além disso, participou de quatro Bienais Brasil do Livro e da Leitura, de cinco Semanas Nacionais de Ciência e Tecnologia, de oito Feiras do Livro do DF, incluindo a Feira Literária do Distrito Federal (Fli/DF), entre outros eventos.
Mensagem ao governador
A deputada distrital Jaqueline Silva enviou, no início de abril, mensagem ao governador Ibaneis Rocha solicitando que ele “dê atenção especial à academia e garanta aos acadêmicos o espaço que é necessário para que continuem exercendo essa importante e rica contribuição para o crescimento literário do DF”. Jaqueline justificou que “é graças a sua representação que escritores, professores, leitores e pesquisadores participam de feiras de livros e leitura, bienais e fóruns em todo o país”. A deputada lembrou ainda ao governador que “a ATL já foi reconhecida pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, a qual adquiriu mais de 300 livros e folhetos de cordel de seus autores”.
No último dia 5, o administrador de Taguatinga, Renato Andrade, afirmou, em reunião com os diretores da ATL Admilson Queiroz e José Maria da Silva Mourão, representando o presidente da entidade, Gustavo Dourado, que a ATL será mantida no espaço onde se encontra por força da lei e do decreto de tombamento. Segundo ele, a instituição será, posteriormente, incluída nos projetos culturais propostos pela Administração Regional.
Manifestação dos acadêmicos
A escritora e professora Hilda Mendonça, fundadora da ATL, afirma que a instituição “é fruto do esforço diuturno de pessoas que amaram e amam a cidade, sua gente e quer que Taguatinga se orgulhe de sua cultura, das letras taguatinguenses e, por isso, sua sede precisa ser mantida”.
“Neste momento, junto-me às vozes que clamam pela permanência da ATL em sua sede, no Centro Cultural de Taguatinga, proporcionando que a instituição mantenha o exercício de suas atividades socioculturais junto à comunidade”, observa o escritor e poeta Ildefonso de Sambaíba, membro-titular da ATL.
Os acadêmicos José Aureliano dos Reis e Pedro Gomes da Silva também se manifestaram. Aureliano comenta: “A ATL não pode ser despejada de sua sede pelo poder público seja a que pretexto for”. E Pedro Gomes disse esperar “que os governantes respeitem as normas legais e mantenham a ATL no espaço que ocupa há 12 anos”.
Depoimentos dos amigos e parceiros da ATL
O presidente da Academia Candanga de Letras, o escritor e poeta Affonso Gomes, declara: “É inadmissível que uma conquista tão aplaudida pela classe literária do Distrito Federal seja simplesmente dizimada por pessoas que não têm compromisso com a cultura de Brasília; a Academia Taguatinguense de Letras ATL é um patrimônio cultural do DF e deve ser respeitada pelas autoridades e mantida na sua sede atual”.
O coordenador de produção da Feira do Livro de Brasília, Luciano Monteiro, afirma: “A Academia Taguatinguense de Letras sempre teve um papel de grande relevância não só no meio literário da cidade de Taguatinga, mas também em todo o universo da educação e da cultura do Distrito Federal. Fica ATL”.
O presidente da Academia de Letras do Brasil e do Conselho Nacional das Academias de Letras do Brasil, escritor e professor Mário Carabajal, em mensagem à ATL, lembra que “a cidade de Taguatinga é referência para o Brasil na arte das letras, encontrando-se a Academia Taguatinguense de Letras como centro difusor da literatura emanada pelo Distrito Federal e pelo Estado de Goiás”.
O professor, escritor e analista judiciário Elias Antunes, morador de Taguatinga, ao defender a manutenção do espaço da ATL ressalta que a entidade “é uma das mais atuantes de forma efetiva e transformadora, seja no fomento da cultura, da literatura e das artes, seja no embasamento para que surjam novos talentos”.
O jornalista e poeta Nonato Freitas salienta que desmontar a ATL significa “trucidar sonhos não só de artistas das letras e de outros segmentos culturais do DF, mas também de toda a sua população”.
A cineasta, poeta e artista Maria Maia manifesta-se: “Viva a ATL, deixem no lugar esse templo da palavra”.
“É lamentável que uma instituição como a Academia Taguatinguense de Letras, que tão bem representa as manifestações culturais e a história de Taguatinga, esteja na iminência de perder o seu espaço-sede”, comentou o poeta e escritor Herbert Lago Castelo Branco.
O professor Marco Aurélio Silva, da Secretaria de Educação do Distrito Federal, conclui: “A Academia Taguatinguense de Letras precisa do apoio governamental, especialmente da Secretaria de Educação e de Cultura, e não do desprezo e ameaças de perda de sua sede, tombada como patrimônio há anos”.