Exposição insistir no existir de Cleber Cardoso Xavier, com curadoria de Simone Oliveira Galeria Olho de Águia – Taguatinga-DF (CNF 1, Ed. Praiamar, Lj12)

16/06/2021 15:38

 Insistir no existir Exposição de Cleber Cardoso Xavier na Galeria Olho de Águia (Taguatinga-DF) Curadoria de Simone Oliveira 16/06 a 30/06/21


Estamos passando por um momento de grande reflexão e cotidianamente são informados e
repetidos os números das mortes recentes. Há relatos de que estamos vivendo uma
normalização e banalização desses dados que, se distanciados, tornam-se somente números,
numa estratégia de negação da realidade, do cotidiano, da pandemia. Enfim, uma negação da
morte. Possível negação da possibilidade da minha morte, da sua morte, da morte da pessoa
que você ama. Ater-se ao presente com um olhar atento e consciente é a provocação da
exposição insistir no existir de Cleber Cardoso Xavier na Galeria Olho de Águia, em Taguatinga-
DF.
Abordar "o tema morte é falar sobre a vida", segundo o fotógrafo Cleber Cardoso Xavier. Pois a
morte é um episódio que está presente na existência, na vida de todo ser. "Se estamos vivos,
em algum momento vamos nos deparar com a perda de um ente próximo ou com o
extermínio do próprio corpo." Enfim, todos, sem exceção irão vivenciar este momento. E um
dos índices para discutir a vida é o cemitério, o lugar onde estão depositados os restos mortais
daqueles que fizeram parte de nossa existência.
Por meio de um olhar atento, o artista promove recortes do cotidiano, exibindo ao espectador,
indícios das relações humanas presentes nos espaços onde investiga a vida por meio do
assunto morte. Os registros trazem cenas comuns do dia-a-dia, bem como a ausência humana
direta, corporificada, mas presente por seus feitos e frutos, interferências analíticas a serem
inferidas dos registros documentais de diferentes localidades.
Cada uma das imagens presentes na mostra visa promover um diálogo entre o local e o global,
o eu e o outro, o aqui e o acolá. Pois todas representam o mesmo assunto, mas com
características muito próprias que contrapõem entre si as representações sociais dos vivos,
estendendo-se assim aos mortos. Transcendendo a imagem à percepção de suas camadas de
informações, relações e memórias.
O artista perscruta e documenta desde a organização do espaço fúnebre até o objeto
arquitetônico que recebe os restos mortais de um ser humano, perpassando pelos detalhes
estéticos e ornamentais que compõem o repositório de memórias familiares.
São mais de duas décadas investigando a representação da "última morada" ou "o campo
santo", trazendo também uma reflexão autobiográfica de suas memórias e anseios. O velório
de sua avó materna é a memória mais remota, e no fugidio da construção das imagens em sua
mente vem o desejo de recordar o que o tempo já dissipou. O artista relata que durante a
infância, no interior de Goiás, em frente a sua casa ele se postava na calçada para observar,
quando não seguia, os cortejos fúnebres que aconteciam a pé. O esquife, contendo os restos
 
mortais de alguém conhecido, era carregado pelas ruas da cidade até o cemitério público.
Hoje, nem mais no interior isto acontece.
Outro item marcante que ele nos relata é o interesse pelo assunto morte e sua relação com a
pauta religiosa, que desde a tenra idade foi a ele ofertada e que abordava a continuidade da
existência, para além do conjunto de tecidos corporais personificados e singulares. A
reencarnação e a possibilidade da vida para além do que é comprovado no corpo material
corrobora para a investigação do substantivo abstrato VIDA.
Assim, a memória do que se estabelece no cemitério está posta para os que ainda vivem e não
mais para os que partiram. A relação com o cemitério importa para quem ainda não ocupa
aquele lugar. Podendo fazer dele um altar de autorreferência ou de negação de um fato que
está claro e evidente, mas que incomoda e provoca sofrimento.
Uma das intenções desta exposição é provocar o espectador quanto ao seu existir, suas
relações, suas memórias e seus sentimentos para consigo próprio e para com o outro, seja este
outro o meio ambiente, o caminhante desconhecido, o ente familiar mais próximo ou até
mesmo o ser esquecido no fundo da gaveta da memória que não mais ocupa lugar de
destaque no olhar...
Estão expostas mais de 50 fotografias de diferentes localidades (Lima – Peru, Santiago –Chile,
Alexânia/GO, Goiânia/GO, Fernando de Noronha/PE, Belém/PA, Aldeia indígena em São
Gabriel da Cachoeira/AM, Barretos/SP, Cruzeiro do Sul/AC, Curitiba/PR, Maceió/AL,
Uberaba/MG, São Luís/MA). Deseja-se que o visitante possa, a partir do contato com as
imagens, refletir sobre o seu existir ao olhar a representação da extinção do corpo alheio.
Simone Oliveira – Curadora
 
Serviço:
Exposição insistir no existir de Cleber Cardoso Xavier, com curadoria de Simone Oliveira
Galeria Olho de Águia – Taguatinga-DF (CNF 1, Ed. Praiamar, Lj12)
De 16/06/2021 a 30/06/2021
Instagram: @ccxavier @galeriaolhodeaguiaoficial

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