Prêmio Rodrigo: Língua e identidade na fronteira

Ação de “Valorização das Línguas Crioulas do Norte do Amapá” cria soluções para ensino da língua .FONTE:https://www.gov.br/iphan/pt-br/assuntos/noticias/lingua-e-identidade-na-fronteira

24/05/2021 20:34

 Língua e Identidade

Oficina junto ao povo Galibi-Marworno (Foto: Coletivo Galibi-Marwono de Audiovisual).

Okhéoul é uma língua resultante do processo de colonização pelo qual passaram as populações da fronteira entre Brasil e Guiana Francesa, falada pelos indígenas Galibi-Marworno e Karipuna, cujas populações são de 2.116 e 3.485 pessoas, respectivamente. Para ensinar a língua nas escolas localizadas dentro das aldeias, os professores indígenas enfrentam alguns desafios: além da língua portuguesa ser dominante para contato com o munícipio do Oiapoque (AP), onde vivem, até recentemente faltava uma ortografia que representasse a maneira de falar o idioma por cada etnia e material didático na língua khéoul.

A solução veio dos estudantes e professores do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena, do campus binacional do Oiapoque da Universidade Federal do Amapá (Unifap), por meio de ação de Valorização das Línguas Crioulas do Norte do Amapá. A iniciativa foi uma das 12 ganhadoras do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade 2020 na categoria patrimônio imaterial, no segmento universidades, pela articulação do conhecimento científico com os saberes de povos tradicionais do extremo norte do estado na documentação das línguas faladas pelas duas etnias.

Projeto Valorização das Línguas no Norte do Amapá (Foto: Divulgação).“As línguas kheuól Galibi-Marworno e kheuól Karipuna são as únicas línguas crioulas faladas por indígenas no país. O reconhecimento por meio da premiação ajuda na divulgação do trabalho de documentação da língua junto à sociedade nacional e aumenta o prestígio junto aos seus falantes”, destaca a coordenadora da ação, Mara Santos, doutora em linguística e professora do curso de Licenciatura Intercultural Indígena da Unifap.

Além de estudar a maneira de ler, falar e escrever o kheuól Galibi-Marworno e o kheuól Karipuna, as ações são voltadas para garantir que a língua continue a ser falada pelas próximas gerações. “Para revitalizar o Kheuól, nós ensinamos a língua na escola para que as crianças não esqueçam nossa língua e nossos costumes”, explica a pesquisadora indígena Janina Forte, que participa da ação.

A formação de professores indígenas e a produção de materiais didáticos, oficinas de filmagem e ilustração são algumas das atividades do projeto de Valorização das Línguas Crioulas. O trabalho dos 18 pesquisadores indígenas, capacitados pela iniciativa, já rendeu algumas publicações pela editora da Unifap, dentre as quais está o manual de ortografia Galibi-Marworno, escrito na língua Kheuól Galibi-Marworno e com versão em português, além do manual de ortografia Karipuna, escrito na língua Kheuól Karipuna e com versão em português.

Oficina junto ao povo Galibi-Marworno (Foto: Divulgação).Segundo a coordenadora da ação, a língua portuguesa tem tido maior prestígio entre os próprios indígenas devido ao fato de ser a língua de contato no município que os envolve e, também, pela falta de acesso às políticas públicas de valorização e preservação da identidade linguística indígena.

Os primeiros trabalhos de descrição da língua Kheuól foram desenvolvidos pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em 1984, incluindo uma gramática. Os professores, no entanto, sentiam falta de uma ortografia que os diferenciassem enquanto falantes de kheuól galibi-marworno e do kheuól karipuna. Uma das atividades desenvolvidas pela ação premiada pelo Iphan foi sistematizar a ortografia que representasse a maneira de falar a língua pelos dois povos. Além disso, eles também produziram dois documentários em Khéoul: "Os Karipuna do Uaça" e  "Os Galibi-Marworno", e livros didáticos.

País multilíngue

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) estima que entre um terço e metade das línguas ainda faladas no mundo estarão extintas até o ano de 2050. O Brasil figura entre os países de maior diversidade linguística. Além do português, há línguas de imigração, de sinais e comunidades afro-brasileiras. Mara Santos estima que ainda são faladas no país mais de 180 línguas indígenas.

Grupo de Trabalho do povo Karipuna (Foto: Divulgação). “As línguas maternas têm um papel fundamental em nossas vidas, pois são o meio pelo qual verbalizamos o mundo pela primeira vez, sendo as lentes pelas quais começamos a entendê-lo.” A afirmação é de Irina Bokova, Diretora- Geral da Unesco, em discurso no Dia Mundial das Línguas Materna, em 21 de fevereiro de 2011.

Em 2010, foi instituído no Brasil, por meio do Decreto nº 7.387, o Inventário Nacional da Diversidade Linguística. Desde então, o Iphan tem apoiado uma série de iniciativas que visam ampliar o conhecimento e a sensibilização em torno dessa dimensão da vida cultural do Brasil que o posiciona entre os mais multilíngues do globo.

Conheça mais sobre o projeto: 

*Fotos:  Coletivo Karipuna de Audiovisual e Coletivo Galibi-Marwono de Audiovisual.

Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade

A ação “Valorização das Línguas Crioulas do Norte do Amapá” foi vencedora do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade 2021, na categoria “Patrimônio Imaterial”, segmento “Universidades Públicas e Privadas”. Realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Prêmio Rodrigo tem como objetivo valorizar e promover ações que atuam na preservação dos bens culturais do Brasil. Este ano, foram escolhidos 12 projetos vencedores. Cada iniciativa recebe uma premiação de R$ 20 mil. 

Assessoria de Comunicação Iphan
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