“Eu não escrevi as regras, por que deveria segui-las?” W. Eugene Smith
Americano nascido no Kansas, William Eugene Smith (1918 – 1978) é considerado um clássico: sua obra permanece repleta de significado histórico e estético mesmo com o passar das décadas. Fotojornalista, tornou-se membro da Magnum em 1955, quando já era conhecido pelas imagens sensíveis e brutais feitas durante a Segunda Guerra Mundial e pelo rigor com que se mantinha fiel a seus princípios profissionais. Entretanto, foi no campo da fotografia social que se tornou referência. Até então, nunca havíamos falado diretamente sobre o fotógrafo no blog, mas seu nome aparece em diversas postagens sobre jovens fotógrafos agraciados com o prêmio da fundação que carrega seu lema. Seguindo a tradição humanista, a Eugene Smith Foundation concede desde 1979 bolsas para o desenvolvimento de ensaios com temáticas sociais.
Ilustram este post imagens de uma de suas reportagens mais inovadoras, Country Doctor, publicada na LIFE em 1948. Para fazê-la, Smith passou 23 dias em Kremmling, Colorado, transformando em crônicas fotográficas os desafios da rotina de um médico. Ao republicá-la online seis décadas depois, a publicação sublinhou que as imagens pareciam tão frescas quanto no momento em que chegaram na redação. Como o médico retratado, Smith também era considerado incansável. Por sua dedicação excessiva, muitos editores o classificavam como “problemático”.
Precoce, Smith tirou suas primeiras fotos publicadas aos 15 anos, para dois jornais locais. Em 1936, ingressou na Notre Dame University, em Witchita, que criou uma bolsa para estudos fotográficos especialmente para ele. Deixou a universidade um ano depois e partiu para Nova Iorque, onde estudou com Helene Sanders no New York Institute of Photography. A primeira experiência profissional veio em 1937, na Newsweek (ainda News-Week), mas foi logo demitido por se recusar a utilizar câmeras de médio-formato. A partir daí, tornou-se integrante da agência Black Star como freelancer.
Smith trabalhou como correspondente de guerra para a revista Flying entre 1943 e 1944, e um ano depois para a Life, onde publicou suas mais conhecidas imagens. Por cobrir a mítica ofensiva norte-americana no Japão simulando ser um combatente, sofreu um grave ferimento que o rendeu mais de trinta cirurgias. Seguindo a máxima cunhada por Robert Capa (“Se suas fotos não estão boas o suficiente, você não está perto o suficiente”), suas imagens impressionavam justamente pela proximidade com os assuntos, mostrando o terror da guerra quase dos olhos de um oficial do exército.
Entretanto, Smith tornou-se referência pelos ensaios que exploravam temas sociais. Um dos mais famosos, Aldeia Espanhola, exemplifica a forma como personificou a fotografia humanística. Publicada na LIFE, em 1952, a reportagem mostrava a rotina de uma vila espanhola em meio à miséria durante a ditadura franquista. Em 1955, ingressou no time de veteranos da Magnum e seguiu desenvolvendo grandes ensaios – alguns realizados durante meses ou anos de profunda imersão.
“A fotografia é uma pequena voz, na melhor das hipóteses, mas às vezes, apenas às vezes, uma fotografia ou um grupo delas pode atrair nossos sentidos à consciência. Muito depende do espectador. Em alguns, as fotografias podem convocar a emoção o suficiente para se tornarem um catalisador para o pensamento.”
W. Eugene Smith.