Aparições do fotográfico na literatura brasileira é um livro que teve seu projeto contemplado com o XII Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia.
A tarefa cumprida neste volume foi de continuar mostrando – após ter iniciado com Achados de Assis: a fotografia em Dom Casmurro –, dentro de obras da literatura brasileira, reflexões sobre o fotográfico. A fotografia em seus estatutos semiótico, psicológico e social vem sendo tratada por pensadores diversos. O leitor terá acesso aqui a aparições pontuais sobre o fotográfico em alguns lugares da literatura brasileira.
A função pretendida deste volume é chamar a atenção para a fortuna teórica relativa ao fotográfico contida na literatura brasileira. Juntamente com 'Achados de Assis: a fotografia em Dom Casmurro', o presente trabalho demonstra que é plausível a hipótese de que estudiosos das teorias da fotografia possam recorrer à produção literária nacional como fonte de reflexão, interlocução e pesquisa para as teorias da fotografia.
Em um de seus livros de memórias, Beira mar, Pedro Nava propõe uma iconografia de Mário de Andrade. A certa altura de sua argumentação, enquanto elenca exemplos de pinturas de Mário, ele se detém, rapidamente, na fotografia. A fotografia em suas possibilidades como meio para o retrato:
"No tocante à fotografia, creio que só merecem escolha duas qualidades de documentos: os instantâneos, pelo aspecto quase cinematográfico da imobilização de um relâmpago de movimento e a fotografia de arte onde o fotógrafo se dobra do psicólogo – esperando, para calcar, o minuto em que se lhe abre a fenda proustiana que permite surpreender o momento exato da eternidade psicológica do seu modelo vivo." (Pedro Nava. Beira mar. São Paulo: Ateliê: Giordano, 2003, p. 211.)
Carlos Drummond de Andrade e Pedro Nava faziam parte de um grupo a que Nava, também em Beira mar, se refere como “aqueles rapazes de Belo Horizonte”. Nava explica que alguns a eles se referiam pejorativamente como “futuristas”, enquanto outros, os indiferentes, os chamavam de “Grupo do Estrela” (tratava-se do Café Estrela, um dos pontos de encontro de jovens artistas e intelectuais da Belo Horizonte da década de vinte do século XX).
É possível, a partir da leitura de Nava, perceber que sua formação, bem como a de Drummond – que a guiou em larga medida, foi tão rica e vasta que seria difícil a questão do fotográfico não figurar em suas reflexões e criações artísticas. A obra poética de Drummond oferece uma quantidade grande de aparições do foto-gráfico. Ora ele figura ali para um tratamento de temas gerais da modernidade, ora para visitar aspectos da decadência da sociedade patriarcal no anacrônico Brasil de inícios do século XX. Em outras aparições, o fotográfico serve de figura ao tempo ou à ação do tempo sobre os seres e as coisas.
Trecho do primeiro capítulo: