Fot?grafos de guerra revelam motiva??es que os levam ao front.Foto:Foto: Cape-France

Christian Simonpi?tri, Nick Ut e Richard Pyle, fot?grafos que cobriram o Vietn?, e o franc?s Jean-Fran?ois Leroy Foto: Cape-France / Divulga?

30/05/2014 10:38

 

 

O tempo passa, mas as lembranças dos horrores da guerra jamais vão abandonar a memória dos fotógrafos que um dia se encarregaram de registrar as imagens dos principais conflitos do século XX. Difícil quem não conheça, por exemplo, o fotografia da menina correndo nua, aos prantos, ao escapar de um bombardeio no Vietnã. Mas para que o mundo tome conhecimento das atrocidades das guerras, dezenas de profissionais perderam a vida, como o francês Henry Houet, no Laos, em 1971, ou o franco-alemão Lucas Mebrouk Dolega, morto em janeiro ao cobrir a revolta popular na Tunísia.

Em homenagem a Houet e Dolega, entre tantos outros fotógrafos de guerra, o Centro da Imprensa Estrangeira em Paris, França, organizou uma mesa redonda com os principais colegas ainda vivos de Houet na Indochina, na qual os fotógrafos relataram suas experiências no front. Representando a nova geração, completava a mesa Olivier Laban-Mattei, profissional de 33 anos que acompanhava Dolegas na Tunísia e assistiu, impotente, à morte do colega. Uma exposição fotográfica com o material de Houet também foi aberta nesta semana em Paris, na Maison Européenne de Photographie.

Nos relatos de cada um, a evidência de que um fio condutor une os cabelos brancos de Horst Faas, Richard Pyle, Nick Ut e Christian Simonpiétri - os ex-fotógrafos da guerra do Vietnã - e Laban-Mattei: a paixão pela aventura. Os fotógrafos de guerra, afirmam, são antes de mais nada pessoas com gosto pelo desconhecido, curiosas e que não perdem por nada uma oportunidade de estar no coração de um acontecimento importante. "A gente precisa se cuidar para não ser morto, porque o fascínio pelas imagens que passam diante dos nossos olhos é incrível. Nós não sabemos onde exatamente está o perigo, e nessa hora de êxtase, nem nos preocupamos em saber, para falar a verdade", recorda-se Nick Ut, o autor do célebre registro da menina fugindo da destruição, agraciado com o prêmio Pulitzer de 1973.

"O Vietnã foi uma experiência única. Foi a primeira guerra em que os fotógrafos estavam livres para cobrir como e o quanto quisessem. Não havia zonas delimitadas pelos militares", lembra Pyle, chefe do escritório da Associated Press durante o conflito. "O resultado disso é que nós nos colocávamos muito mais em risco do que em qualquer outra guerra de antes. Para os jornalistas, o Vietnã é algo que jamais tinha acontecido antes e que jamais acontecerá de novo", disse o fotógrafo, pouco antes de lamentar a morte de 75 colegas na Indochina.

De acordo com o relato dos profissionais, a imprensa apenas passou a ser alvos de guerra a partir da guerra do Líbano, iniciada em 75, e, mais recentemente, durante o conflito étnico na Bósnia, na década de 90. Seguiram-se tragédias para a imprensa como a Somália, o Congo, o Sudão, o Iraque e o Afeganistão: de lá para cá, a avaliação é a de que situação apenas piorou para os profissionais da mídia. "Antigamente", relatam, eles eram vistos como o ponto de imparcialidade nos conflitos: aqueles que não tinham nem lado, nem preferências. Hoje, afirmam os fotógrafos, até mesmo conflitos urbanos, como a violência do tráfico no México, podem ser mais perigosas do que as guerras de outrora, já que a percepção das consequências negativas que as imagens podem ter aumentou. Uma prova recente foi a caça aos jornalistas realizada por militantes favoráveis ao ditador egípcio Hosni Mubarak, que se sentiram na obrigação de afugentar a imprensa por temer que a repressão internacional estivesse degradando ainda mais a situação política no país, e por consequência, diminuindo as chances de o presidente conseguir se manter no poder.

"A nossa profissão é muito perigosa e a cada vez que um de nós era morto, ferido ou desaparecia, eu me fechava no meu canto por diversos dias, refletia, ficava mal", conta Simonpiétri, para uma plateia lotada de historiadores, jornalistas e, é claro, colegas de profissão. "Mas depois, como todos, eu voltava ao normal e voltava à ação. Eu não quis virar fotógrafo de guerra: foi a guerra que me pegou com as suas garras e me levou a essa aventura. E os anos que passei no Vietnã continuam sendo, até hoje, os mais belos anos da minha vida."

Host Faas, diretor de operações fotográficas da Associated Press durante a guerra do Vietnã, ressalva que, apesar das ameaças, os jornalistas de hoje não perderam a garra para correrem atrás das melhores histórias e imagens. "Nunca vamos desistir da nossa liberdade de reportar a realidade. Nós questionávamos tudo que víamos e só reportávamos o que víamos. Quando vejo o que acontece hoje no Afeganistão, fico feliz que os repórteres questionam o que veem", comentou Faas.

Já Laban-Mattei, o mais jovem dos fotógrafos, ainda se sente abalado pela morte do colega, na Tunísia. Ele estima que, embora sinta uma "atração fatal" - como ele mesmo definiu - por mostrar ao mundo os dramas humanos que acontecem nos locais mais remotos, não tem mais tanta certeza se estará pronto para voltar a viver situações de tamanho perigo. "Tendo a voltar, porque eu sempre quis fazer isso. Mas é uma reflexão que estou fazendo, já que tudo aconteceu há somente três semanas. Estou refletindo, tenho um filho de 10 anos que já não vejo muito", disse Laban-Mattei. "Talvez eu faça de uma forma diferente. Para mim, é difícil de digerir por enquanto porque tudo está muito presente na minha cabeça."

Para ele, a profissão de fotógrafo de guerra ou está no sangue, ou não, e é carregada de um lado egoísta que não permite ao repórter pensar nos familiares que se angustiam durante o período de trabalho em uma região perigosa. "Não pensamos no perigo, só queremos viver aventuras extraordinárias. Uma vez que a gente experimenta, o lado egoísta cede cada vez mais espaço à empatia com as pessoas e os dramas delas que a gente se fotografa", afirma Laban-Mattei.Fonte:http://noticias.terra.com.br/

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