publicado em fotografia por Ricardo Ramos
Em 1970 a guerra do Vietname encontrava-se no seu auge. Comovido pelas fotos que chegavam da guerra , James Nachtwey no despertar do seu nível pessoal e em busca do seu idealismo, resolveu definitivamente ser fotógrafo de guerra. Ir para onde mais ninguém quer ir. Começou a sua carreira como fotógrafo de um jornal do estado americano do Novo México, mudando-se mais tarde para Nova York para trabalhar como freelancer. Desde ai visitou lugares do mundo, como o Líbano, El Salvador, Chechênia, Afeganistão, entre outros lugares de conflito. Através das fotos de Nachtwey a miséria humana, deixa de ficar clandestina. É através desse trabalho que o levou a ser hoje considerado um dos mais prestigiados fotógrafos de guerra do mundo.
James afirma que tentou a vida toda ser invisível e que enquanto fotógrafo, jamais quereria beneficiar da tragédia de outra pessoa, nunca procurou a fama, mas o seu trabalho é visível. As imagens são facilmente reconhecidas de imediato quando o tema é sobre conflitos de guerra.
A primeira coisa a notar – se em todas as suas imagens é a desordem e o caos. O clima é de medo ou raiva, a guerra é como o inferno. A beleza das fotos é uma questão polémica em cenas de sofrimento, crueldade e morte. Quase que nos atrevemos de “cair no pecado” de dizer que a guerra é bela. Ao visualizar as suas fotos, automaticamente, na nossa mente inicia-se uma música instrumental clássica, como uma banda sonora que acompanha as imagens. É até difícil perceber como é que alguém pode pensar tanto sobre a composição ou o estilo quando se está no meio de uma guerra, entre cadáveres, choro, gritos e lamentos. Uma das muitas fotografias reconhecidas, é a do rapaz da etnia hutu, em Ruanda, tirada em 1994, o perfil do jovem rapaz mostra cicatrizes na face, que contam uma história que jamais será esquecida, são marcas de catana que lhe atravessam o rosto. Valeu a Nachtwey o prémio World Press Photo em 1994.
Possuidor de uma personalidade silenciosa, misteriosa e tímida, de um perfeccionismo implacável, parece procurar incansavelmente momentos chocantes, como foi o caso dos pais que enterraram, entre uma dor insuportável, o próprio filho, vítima da barbárie da guerra. Porém, podem existir algumas dúvidas na nossa mente, tais como: Será que ele chora? Será que ele dorme à noite? Já que as fotos nos poderão causar algum tipo de sentimento, podemos tentar imaginar o sentimento causado a James Nachtwey que está a presenciar o momento in loco. Até porque não se trata de estar simplesmente a fotografar a dinâmica de guerra, de uma crise humanitária ou de uma qualquer injustiça política, é preciso saber enquadrá-la em termos humanos.
Carrega nos ombros, o título de corajoso, a imagem mítica do fotógrafo de guerra atual. Ao que ele repreende sempre, cada vez que assim é apelidado, afirmando que prefere ser tratado de fotógrafo "anti-guerra", porque as suas imagens além de alimentarem a história, tentam que haja uma modificação futura , numa tentativa de modificar e melhorar o nosso comportamento. Por vezes para sensibilizar é preciso chocar as pessoas, para uma profunda consciencialização e própria evolução do senso comum.
Relembra-nos que o verdadeiro Inferno é aqui na terra. As imagens são fortes e de vez em quando surge a tentação de olhar para o lado e fechar os olhos, mas a visão é tudo, e fechar os olhos é perder a oportunidade de ver o trabalho de um dos melhores fotógrafos de sempre.
War Photographer foi lançado em 2001, é um documentário focado totalmente em Nachtwey, com uma visão de primeira pessoa. O diretor foi Christian Frei utilizou que utilizou micro câmeras especiais acopladas à câmara fotográfica do fotografo. Foi filmado em 2 anos durante os conflitos de Kosovo, Palestina e Indonésia.
Mais que um fotógrafo, Nachtwey é um contador de histórias, de terror?
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