João Silva pisou mina mas continuou a fotografar.

João Silva, um dos mais consagrados fotojornalistas de conflitos do mundo, nasceu em Lisboa e reside desde muito novo na África do Sul, onde o seu trabalho começou a ganhar destaque no início da década de 90.fonte://www.dn.pt

26/10/2019 10:17

 

(ACTUALIZADA) Fotógrafo português perdeu parte das pernas e ainda não está fora de perigo. Encontra-se já no hospital das forças armadas americanas em Heidelberg, na Alemanha.

João Silva, português radicado na África do Sul, ficou ontem gravemente ferido depois de ter pisado uma mina, no Sul do Afeganistão. Segundo o porta-voz do The New York Times, jornal para o qual o fotógrafo trabalha actualmente, Silva perdeu "parte de ambas as pernas", apresentando ainda "danos pélvicos e hemorragias internas".

Segundo fonte da família do repórter fotográfico, que é residente em Joanesburgo, João Silva foi levado durante a manhã de hoje para a Alemanha, depois de os médicos se certificarem de que o seu estado clínico estabilizou após a amputação parcial de ambas as pernas a que foi submetido.

A mulher sul-africana do fotojornalista e mãe dos dois filhos do casal, Vivian, embarcou ao princípio da noite com destino a Heidelberg para seguir junto do marido a delicada fase de recuperação clínica e psicológica que se segue ao acidente sofrido quando seguia uma patrulha do exército dos EUA na cidade de Arghandab.

Zona tinha sido passada a pente fino

O fotógrafo de 44 anos acompanhava uma patrulha da 101.ª Divisão Aerotransportada em Arghandab, na província de Kandahar, quando pisou a mina. De acordo com o relato da jornalista Carlotta Gall - contado ao DN pelo porta-voz Robert Christie -, João Silva "continuou a tirar fotografias após a explosão, enquanto os médicos habilmente aplicaram torniquetes, lhe deram morfina e o levaram em maca para o helicóptero".

Após ter sido levado de emergência para a base em Kandahar, o fotógrafo foi operado e foi depois transferido para a base de Bagram, perto de Cabul. Segundo Robert Christie, os médicos estiveram sempre em contacto com a mulher do fotógrafo, tendo-he indicado que ele "ainda não está livre de perigo, mas é extremamente forte".

"O João é um excelente fotógrafo de guerra, temeroso mas cuidadoso, com um olho incrível", disse Bill Keller, editor executivo do New York Times. "Aguardamos ansiosamente e rezamos pela sua rápida recuperação." Antes de trabalhar no Afeganistão, o fotógrafo de guerra tinha já passado pelo Iraque, pelos Balcãs, por vários países em África e do Médio Oriente, tendo visto as suas fotos distinguidas com vários prémios.

Não há relato de mais feridos no incidente de ontem. Segundo o jornal norte-americano, "um grupo de especialistas em minas e de cães farejadores de bombas tinha já passado sobre a área e encontrava-se vários passos à frente de João Silva quando se deu a explosão". As minas, accionadas remotamente ou através de algum mecanismo de pressão, são a principal arma usada pelos talibãs no Afeganistão, sendo baratas e fáceis de fazer, mas difíceis de detectar. Segundo a AFP, foram responsáveis pela morte da maioria dos 600 militares estrangeiros que, só este ano, já perderam a vida neste país.

Para acompanhar os militares, os jornalistas têm de assinar vários termos de responsabilidade. "Somos nós que temos de garantir a nossa própria vida e ter o nosso próprio equipamento, desde coletes a capacetes. Temos de contratar seguranças privados se quisermos", disse ao DN o jornalista João Francisco Guerreiro, da TSF, que esteve até há dias com os militares portugueses em Cabul. Quanto ao medo, confessa que este é maior quando ainda se está em Portugal. "Depois de chegar, é mais fácil estar mais tranquilo, porque a ameaça é permanente", acrescentou.

O dia de ontem no Afeganistão ficou ainda marcado por um ataque de bombistas suicidas à representação da ONU em Herat. Três guardas ficaram feridos.

Premiado e autor de livro que deu em filme

João Silva recebeu já vários prémios pelo seu trabalho como fotógrafo de guerra, contando no seu palmarés o prestigiado The World Press Photo. Além do Afeganistão, esteve também no Iraque, Balcãs e Médio Oriente. 

Veja aqui algumas fotos de João Silva:

 

O fotógrafo português também foi autor, em parceria com Greg Marinovich, do livro "The Bang-Bang Club", que conta a história de um grupo de quatro fotógrafos que na década de 90 cobriram a violência na África do Sul: o próprio João Silva, Marinovich, Kevin Carter e Ken Oosterbroek (estes dois entretanto falecidos).

O "The Bang Bang Club" foi entretanto passado a filme, cujo trailer pode ver aqui:

 

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